Detecção precoce ainda é um desafio para doenças do aparelho digestivo

Doenças do aparelho digestivo, especialmente as oncológicas, como câncer de cólon, têm se tornado uma preocupação para a área da saúde. Causadas por fatores diversos, enfermidades como câncer do aparelho digestivo estão sendo diagnosticadas em pacientes cada vez mais jovens. Por isso o alerta. Atual presidente da Sociedade Gaúcha de Gastroenterologia, o médico Guilherme Sander pontua relevância epidemiológica que essas doenças representam para a sociedade. 

Guilherme Sander assume a presidência da Sociedade Gaúcha de Gastroenterologia | abc+



Guilherme Sander assume a presidência da Sociedade Gaúcha de Gastroenterologia

Foto: Divulgação

Sander destaca que o câncer de aparelho digestivo é prevenível desde que tomados os cuidados necessários, a exemplo do que ocorre com cânceres de mama e próstata, por exemplo, em que campanhas engajam a população para a necessidade de exames de rastreio e tratamento precoce.

O médico cita, inclusive, a campanha do Março Azul que chama a atenção para a conscientização do câncer colorretal, como mote para falar dos meios de prevenção da doença. “Tem a questão da alimentação, da associação de ultraprocessados estar associado ao câncer do aparelho digestivo. A prevenção passa pela melhoria na alimentação, optando por mais alimentos in natura, mas não é só isso”, destaca Sander.

O médico pondera que a ocorrência de câncer também está associada a outras causas, como genética. Contudo, a detecção precoce da doença é o caminho mais eficiente para a cura. Nesse sentido a realização exames de rastreio, como a colonoscopia, e também o exame de sangue oculto nas fezes, são aliados na prevenção da doença.

Na colonoscopia, por exemplo, explica Sander, quando são detectados pólipos (que estão associados ao desenvolvimento dos tumores) é possível retirá-los antes que possam se manifestar. “Diretrizes internacionais preconizam a colonoscopia de rastreio a partir dos 50 anos”, afirma Sander. No entanto, esses exames podem ser solicitados por qualquer médico (de família, clínico geral, ginecologista, cardiologista) durante um checape anual, por exemplo. “Quando não há anormalidades no exame, a colonoscopia pode ser realizada a cada dez anos.”

Gastroplastia: procedimento que vai além da perda de peso

O cuidado com a saúde digestiva tem impactos amplos na vida dos pacientes. Sander destaca a gastroplastia como recurso que, além de promover a perda de peso, podem influenciar positivamente nos índices metabólicos de pacientes com doenças como hipertensão e esteatose hepática, por exemplo. Indicada para pacientes com IMC 30 e 35Kg/m², a gastroplastia é feita por via endoscópica, pela boca, sem cortes, de maneira similar a uma endoscopia digestiva. O médico explica que o procedimento é capaz de reduzir o volume do estômago, favorecendo a perda de peso. No entanto, o procedimento não é coberto por planos de saúde. 

Confira perguntas e respostas sobre a gastroplastia

Quando a Gastroplastia Endoscópica é indicada?

Indicação: IMC ideal entre 30 e 35 Kg/m2, que é a faixa da obesidade leve, sendo realizado em alguns casos de sobrepeso, mas com IMC mínimo de 27 Kg/m2. Não há limite superior, mas acima de 35 kg/m² a cirurgia bariátrica deve ser considerada, sendo a gastroplastia endoscópica uma opção para pacientes que não querem fazer a cirurgia.

A cirurgia é feita via laser?

Não, é feita por via endoscópica, pela boca, sem cortes, de maneira similar a uma endoscopia digestiva alta para investigação de gastrite, refluxo, úlceras. (muitas vezes os pacientes confundem laser com várias tecnologias, como videolaparoscopia, cirurgia robótica, endoscopia, mas o uso do laser é pouco frequente em cirurgia de maneira geral)

Quanto tempo dura o procedimento de Gastroplastia Endoscópica?

O procedimento dura cerca de 1 hora. Mas o mais importante é que é ambulatorial, com alta após 4 a 6 horas de observação na sala de recuperação, permite regressar ao trabalho em 4 a 5 dias, não altera a absorção de vitaminas e nem de medicamentos (importante em pacientes com outras doenças que usam medicamentos cronicamente), permite regressar a atividade física após uma semana.

Como é o pós-operatório? Existem restrições?

O paciente fica com dieta líquida por 3 semanas, para favorecer a cicatrização. Pode realizar caminhada já desde o primeiro dia. Usualmente o paciente sente uma dor de fraca a moderada na boca do estômago por 1 dia e que vai reduzindo até desaparecer no terceiro dia. No quarto dia pode retorar ao trabalho e depois de uma semana pode retornar a atividade física.

Quais as vantagens e desvantagens da Gastroplastia Endoscópica?

A maior vantagem é ser um procedimento seguro, com baixíssimos índices de complicações, que não necessita internação e não tem cortes. As desvantagens são de ordem econômica, por que não é coberto por planos de saúde, e tem uma perda de peso um pouco abaixo da cirurgia de sleeve cirúrgico (a técnica de cirurgia bariátrica mais realizada nos EUA).

Existem riscos ao paciente na Gastroplastia Endoscópica?

Não foram relatados óbitos até hoje, em todo o mundo. A taxa de eventos adversos é de 2,2% predominantemente por prolongamento do internamento hospitalar por náuseas ou dor (1%), sangramento com manejo por endoscopia (0,5%) e vazamento perigástrico/coleção (0,48%) que necessitaram uso de antibióticos. Existem raríssimos casos que necessitaram de intervenção cirúrgica para soltar pontos que pegaram outros órgãos ou para drenagem de abcesso, com uma probabilidade inferior a 1 para 1000.

Presidência da SGG

À medida que o comportamento da sociedade muda, os reflexos aparecem na saúde e isto exige constante atualização. A ocorrência cada vez mais cedo de câncer digestivo é um desses fatores que desafiam os médicos a buscar tratamentos e também formas de prevenir doenças. Para o médico Guilherme Sander este desafio vai além do consultório. Sander assume a presidência da Sociedade Gaúcha de Gastroenterologia (SGG). A posição já foi firmada em cartório, mas a cerimônia ocorrerá no dia 26 de março, no Espaço Multiuso da Amrigs, às 19h30.

Ao assumir a gestão 2025-2026 da SGG, Sander terá o desafio de promover ações para manter os especialistas atualizados, como cursos e seminários, além de suporte aos profissionais. O médico também cita a aproximação com governos na medida em que são necessários auxílios e orientações sobre diretrizes que dizem respeito à saúde pública.

 

 

Adicionar aos favoritos o Link permanente.