Policial civil baleado por guarda municipal: “Poderíamos ter tido uma tragédia”, diz diretor do Denarc

 

Preso em flagrante por tentativa de homicídio, o guarda municipal que baleou um inspetor da Polícia Civil na noite de quinta-feira (13) em São Leopoldo foi solto no dia seguinte na audiência de custódia. Responderá em liberdade a processo que pode levá-lo a júri popular. Para o diretor do Departamento Estadual de Investigações do Narcotráfico (Denarc), delegado Carlos Wendt, o tiro por pouco não desencadeou uma “tragédia”.

Carro da GCM bateu na frente do hospital durante atrito com policiais civis | abc+



Carro da GCM bateu na frente do hospital durante atrito com policiais civis

Foto: Juliano Piasentin/GES-Especial

O inspetor, que atua no Denarc, foi ferido quando participava da prisão de dois criminosos e da apreensão de R$ 1,5 milhão em drogas e armas. A bala atravessou a perna e alvejou também o traficante detido, por volta das 19h40, em uma casa no bairro Arroio da Manteiga.

Depósito de facção

Conforme o diretor do Denarc, delegado Carlos Wendt, havia quatro policiais da equipe na residência, identificada como um dos depósitos da maior facção do Estado, sediada no Vale do Sinos. “Quando eles estavam se preparando para sair do imóvel para se deslocar ao Denarc, com o preso e o material apreendido, os guardas municipais ingressaram e houve esse incidente.”

O diretor ressalta o preparo profissional. “Os policiais logo se identificaram como agentes do Denarc e não sacaram arma porque viram que eram guardas municipais, mas o guarda acabou efetuando um disparo que transfixou a perna do policial e atingiu também o preso.”

Para o delegado, a situação poderia ter sido ainda mais grave. “Que bom que os policiais civis acreditaram que eram guardas municipais e agiram com tranquilidade, porque, do contrário, poderíamos ter tido uma tragédia ali dentro. O pessoal é muito bem treinado.”

Vizinhos chamaram

A Guarda Civil Municipal (GCM) foi chamada por moradores do Arroio da Manteiga, que denunciaram movimentação suspeita na casa. Os guardas entraram pelos fundos e um deles teria gritado “polícia”, pensando estar lidando com criminosos, antes do tiro no agente do Denarc.

Em nota, a prefeitura de São Leopoldo diz que lamenta o fato e afirma que será apurado internamente. “A conduta do agente da Guarda Civil Municipal será apurada em processo administrativo no âmbito do município.”

Nova tensão nos arredores do hospital

O inspetor e o preso foram imediatamente socorridos ao Hospital Centenário. No entorno da casa de saúde, se formou um ambiente tenso. Policiais civis tentavam prender em flagrante o guarda, que era protegido por colegas. Os xingamentos quase terminaram em pancadaria.

“Vou te matar”, gritou um policial a um guarda, durante troca de ofensas. Alguns empunhavam armas. Entre os carros da GCM que chegavam apressadamente para prestar apoio, um bateu em um pilar na entrada do hospital e ficou danificado na parte dianteira.

O traficante e o guarda que atirou foram levados na mesma noite à sede do Denarc, em Porto Alegre. O inspetor baleado, que é da última turma, empossada no ano passado, recebeu alta nesta sexta.

Flagrante confirmado com alvará de soltura

O guarda foi autuado em flagrante por tentativa de homicídio com dolo eventual, imputado a quem assume o risco de matar. Na audiência de custódia, no Núcleo de Gestão Estratégica do Sistema Prisional (Nugesp), o juiz plantonista homologou o flagrante, mas mandou soltá-lo.

As condições para responder em liberdade não foram detalhadas pelo Tribunal de Justiça, sob argumento de que o processo tramita sob sigilo. O nome do guarda não foi informado.

Operações discretas já geraram outras confusões

Não é a primeira vez que operações discretas do Denarc geram reações parecidas em moradores no Vale do Sinos. Além de São Leopoldo, há relatos recentes em cidades como Novo Hamburgo e Sapiranga. Em Estância Velha, no ano passado, Brigada Militar e Guarda Municipal foram acionadas para um possível sequestro, que na verdade era a prisão de um traficante pelo Denarc no bairro Campo Grande.

O diretor define que o aconteceu em São Leopoldo, no entanto, é um “fato isolado”. Para evitar, ele considera que é preciso aumentar a comunicação entre as instituições. “Não que o Denarc vá informar os trabalhos que fará, porque a gente realiza todos de forma sigilosa. Mas, daqui a pouco, avaliar a entrada e abordagem.”

Para ele, o episódio exige uma reflexão. “Independentemente da instituição, é importante uma revisão constante dos procedimentos, treinamento de técnicas operacionais e acompanhamento psicológico, porque o combate à criminalidade sempre envolve uma carga alta de estresse.”

Dois fuzis e 50 quilos de droga foram apreendidos na casa

Na casa no Arroio do Manteiga, o Denarc apreendeu 50,8 quilos de crack, dois fuzis calibre 556, uma pistola calibre 9 milímetros e farta munição. O morador, de 28 anos, acabou sendo baleado junto com o policial civil pelo guarda municipal.

Armas, drogas e munições foram apreendidos pelo Denarc na casa onde guarda baleou inspetor | abc+



Armas, drogas e munições foram apreendidos pelo Denarc na casa onde guarda baleou inspetor

Foto: Polícia Civil

Pouco antes, o motorista de uma Toyota Hilux, que havia saído do imóvel, havia entregue uma caixa ao condutor de um Ford Ka. O Ka foi acompanhado e abordado no Centro de Porto Alegre. Transportava dois quilos de cocaína. O motorista, de 38 anos, foi preso. Os agentes também apreenderam os dois carros.

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