Moradores da Roselândia reclamam e Comusa reconhece falhas na tarifa de água e no esgotamento sanitário

Contas de água que dobraram ou até triplicaram de valor, problemas nas calçadas, nos pátios e até dentro das casas, além do mau cheiro de esgoto. Essas são algumas das reclamações de moradores do bairro Roselândia, em Novo Hamburgo, que desde o início do ano têm recebido faturas com valores muito acima do normal, chegando a montantes impossíveis de serem pagos por algumas famílias.

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Moradores apresentam costas de água com valores elevados | abc+



Moradores apresentam costas de água com valores elevados

Foto: Dário Gonçalves/GES-Especial

Diante da situação, a comunidade buscou diálogo com a Comusa – Serviços de Água e Esgoto e com a Prefeitura. Na manhã desta segunda-feira (17), líderes comunitários entregaram ao prefeito Gustavo Finck um abaixo-assinado com mais de 2.500 assinaturas relatando os problemas. Já à tarde, dezenas de moradores se reuniram em frente à Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) do bairro, onde conversaram com o diretor-presidente da Comusa, Paulo Kopschina. Uma reunião entre Finck e Kopschina foi prometida para avaliar as reivindicações.

Reclamações da comunidade:

Segundo o líder comunitário Ubiramar Darlan Silva Pinheiro, que participou da reunião com o prefeito ao lado de Armando Forquezato, os problemas começaram em janeiro, quando foi aplicada uma cobrança de 70% sobre o consumo de água para o tratamento de esgoto. Em fevereiro, houve ainda um acréscimo de 25% no valor da água consumida.

“Tornou-se inviável. Tem contas que dobraram e até triplicaram. Procuramos a Comusa, mas encontramos resistência. Eles dizem que tudo está funcionando como deveria, mas apenas 42% das residências têm ligação de esgoto, e mesmo entre essas, muitas não estão operando corretamente”, afirma Pinheiro.

Ele conta também que, após não obter sucesso no diálogo com a Comusa, os relatos foram levados ao prefeito Gustavo Finck na manhã desta segunda-feira (17). “Temos um abaixo assinado com mais de 2.500 assinaturas, que por orientação do Ministério Público, estamos tentando uma negociação amigável. Se não houver, a orientação é que nós nos retiramos e eles entram. A Comusa recebeu R$ 12 milhões do governo federal, e agora eles estão cobrando dos moradores, o que não achamos justo”, relata.

A proposta da comunidade é substituir a cobrança baseada no percentual de consumo de água por uma taxa fixa, que variaria entre R$ 10,00 e R$ 30,00. “Assim seria mais justo”, defende Pinheiro.

Impacto no orçamento das famílias

A dona de casa Haguinis Vieira da Silva, 51 anos, vive com quatro pessoas, incluindo o pai acamado. Ela questiona o alto valor da fatura, já que três integrantes da família passam o dia fora de casa. “Minha conta de fevereiro veio R$ 1.255,00. Achei um absurdo e entrei em contato com a Comusa. Pediram para eu fotografar o relógio e constataram que o consumo estava errado. Reduziram minha fatura para R$ 411,00, mas ainda está muito acima da média de R$ 158,00 que eu pagava no último semestre de 2024”, relata.

O aposentado Ordalino Alves Soares, 80 anos, e sua esposa, que vivem com renda mínima, viram a conta de água saltar de R$ 75,76 em novembro de 2024 para R$ 330,51 em fevereiro deste ano. Já o motoboy Ivanor Vieira, 56 anos, pagava R$ 538,35 e agora recebeu uma cobrança de R$ 1.259,99. “Trabalhei quatro anos na Secretaria de Obras e sei que esse serviço está malfeito. No vaso sanitário da minha casa, dá para ver o esgoto borbulhando. Quando chove, a rua alaga e o esgoto volta pelas caixas, algo que nunca acontecia antes”, reclama Vieira.

Casos semelhantes se repetem com Janete dos Santos, que pagava R$ 136,30 em setembro de 2024 e, em fevereiro, a conta saltou para R$ 288,71. A aposentada Eduvirge Silva Pinheiro sentiu o aumento já em dezembro, quando a fatura pulou de R$ 110,34 para R$ 397,79, sendo R$ 147 apenas de taxa de esgoto.

Comusa reconhece falhas

O diretor-presidente da Comusa, Paulo Kopschina, admite que houve problemas tanto na obra quanto nas cobranças. “As reclamações sobre serviços malfeitos procedem. Não em todas as residências, mas em um percentual significativo. Já estamos corrigindo as calçadas e os pátios, e também vamos vistoriar casos de danos dentro das casas, como pisos levantando. Tudo o que foi mal feito é nossa obrigação corrigir”, garante.

Sobre as contas elevadas, Kopschina afirma que os cálculos estão sendo revisados. “As faturas com discrepâncias serão recalculadas com base na média de consumo dos três meses anteriores. Além disso, descobrimos que um funcionário não realizava as leituras corretamente e colocava valores arbitrários nas contas. Esse servidor foi afastado neste verão.”
Kopschina também informou que novas soluções serão discutidas com o prefeito. “Se ele não me chamar até o fim do dia, eu mesmo vou procurá-lo. O que ele definir, eu irei seguir”, conclui.

Cobrança tem respaldo em lei, diz Comusa

A Companhia também divulgou um comunicado informando que instaurou um grupo de trabalho com a comunidade para tratar das reclamações. Disse ainda que a taxa de tratamento de esgoto tem como respaldo a lei federal 11.445/07. “Conhecida como a Lei de Saneamento Básico, a legislação estabelece diretrizes nacionais para o setor, bem como a cobrança de 70% sobre o consumo de água para o tratamento de esgoto“, diz.

Paulo Kopschina ouve as demandas dos moradores | abc+



Paulo Kopschina ouve as demandas dos moradores

Foto: Dário Gonçalves/GES-Especial

Além da lei Federal, a cobrança da tarifa de esgoto é regulamentada também pela da Lei Municipal 3157/2018, Art. 13, e seus parágrafos e “é realizada de acordo com o volume de água medido nos casos em que o imóvel é abastecido pela Comusa ou presumido quando utiliza fonte alternativa de abastecimento, sendo cobrado uma tarifa única em cima de 10 metros cúbicos de água”, acrescenta.

Conforme a Comusa, a ETE Roselândia, inaugurada em dezembro de 2022, atende cerca de 1.200 ligações residenciais, e trata mais de 200 mil toneladas de resíduos por ano. São 9,8 quilômetros de rede, que beneficiam 5 mil moradores do bairro Roselândia.

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