Como investir em renda fixa, ações e fundos imobiliários com a Selic a 14,25%? 

Selic subiu para 14,25% hoje após decisão do Copom; especialistas indicam como ficam os investimentos com nova taxa de juros (Foto: rparobe/Getty Images)

O Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) decidiu, nesta quarta-feira (19), pela elevação em 1 ponto percentual da Selic, aumentando a taxa para 14,25%. Ainda que amplamente esperado – e precificado – pelo mercado, o movimento tem impactos imediatos e de longo prazo nos investimentos dos brasileiros. 

Na renda fixa, há espaço para conservadores e arrojados aproveitarem as taxas mais altas. Já especialistas em ações seguem apostando na atratividade dos descontos da Bolsa a longo prazo, enquanto as diferentes estratégias dos fundos de investimento podem ajudar no equilíbrio entre risco e retorno. 

Confira o que os especialistas recomendam em renda fixa, ações, fundos imobiliários e investimentos no exterior após mais uma alta da Selic:

Títulos públicos

Com a última decisão do Copom, o Tesouro Selic passa a pagar 14,25%, além de uma pequena taxa prefixada de até 0,1%.

Em relatório, a XP reitera sua visão positiva para a renda fixa. Os pós-fixados e, principalmente, os títulos atrelados à inflação são recomendados, “uma vez que os juros nominais e reais permanecem em patamares elevados, permitindo retorno atrativo aos investidores”.

Para Julio Ortiz, CEO e cofundador da CX3 Investimentos, é hora de aproveitar: “poucas vezes vimos a taxa básica de juros pagar um prêmio acima da inflação tão alto”, comenta.

O especialista diz que diversificar a carteira de títulos públicos “com cautela” entre Tesouro Selic e Tesouro IPCA+ é válido, já que “é difícil imaginar que o descontrole fiscal atual continuará no longo prazo”. 

Para o Inter, o Tesouro IPCA+ 2045 “pode ser a grande chance do ano”, considerando todas as classes de investimento. “Com curvas batendo prêmios históricos, a estratégia mais condizente é alongar o máximo possível a duration e deixar o investimento rendendo a uma taxa elevada por mais tempo”, diz Rafael Winalda, especialista em renda fixa do banco. Equilibrar pós-fixados para objetivos de curto prazo e híbridos nas estratégias de longo prazo deve ser uma estratégia vencedora, segundo o analista.

Crédito privado

Marcelo Peixoto, gestor de crédito privado da Trígono Capital, pondera o impacto direto do aumento de juros: “as despesas financeiras das empresas aumentam ainda mais, mas já era algo esperado”; e o impacto indireto da decisão do Copom: “teremos sinais de desaceleração da economia”, o que tem consequências sérias nas receitas das companhias, explica o especialista. 

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Diante desse contexto, investir em dívidas corporativas de empresas com nota de crédito alta (high grade) é uma boa estratégia, segundo Peixoto. O gestor diz que mesmo com spreads mais baixos, a dispersão ainda é grande, o que permite ao investidor encontrar papéis com boa relação entre risco e retorno. Títulos emitidos por empresas mais alavancadas ou posicionadas em setores ligados à economia doméstica, como varejo e incorporação imobiliária, são vistos com mais desconfiança pelo gestor. 

Braian Largura, sócio do escritório VNT Investimentos, destaca os ativos isentos de Imposto de Renda – debêntures incentivadas, CRIs e CRAs – como as melhores opções para as pessoas físicas. Ele ainda recomenda “manter uma duration moderada, evitando alongamentos excessivos”. 

Fundos de investimento 

Para Andressa Bergamo, especialista em mercado de capitais e sócia-fundadora da AVG Capital, os fundos de crédito privado são uma opção interessante, já que tendem a oferecer um retorno mais elevado em tempos de Selic alta porque as empresas compensam o risco de crédito com uma taxa maior para atrair investidores. “Esses fundos podem oferecer um rendimento superior ao de fundos de renda fixa tradicionais, embora com um risco adicional relacionado ao crédito dos emissores”, lembra ela. 

Para os investidores mais avessos a risco, ela indica os fundos de renda fixa de curto prazo, que oferecem a rentabilidade atrelada à taxa de juros. “As opções mais indicadas são os fundos de renda fixa de curto prazo, como os que investem em CDB, LCI e LCA e, principalmente, títulos públicos (Tesouro Selic)”, afirma Bergamo.

Nesse caso, o investidor deve ficar atento à taxa de administração cobrada pelos fundos, que pode corroer parte da rentabilidade.

Ações

Embora a Selic mais alta pressione os balanços das empresas e afete a confiança dos consumidores, outros fatores falam mais alto e garantem a alta superior a 10% do Ibovespa no ano. Um deles é a volta gradual do fluxo de investimentos de estrangeiros na Bolsa brasileira. Além disto, “mesmo empresas que têm apresentado resultados sólidos estão sendo negociadas a múltiplos bastante deprimidos, o que favorece um movimento técnico de recomposição de posições”, resume Beto Saadia, diretor de investimentos da Nomos. 

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O futuro das cotações ainda depende de fatores vistos como incertos pelo mercado, como evolução do cenário fiscal, as próximas decisões do Copom e trajetória da inflação. Por isto, “no curto prazo, a tendência para as ações brasileiras parece ser de volatilidade”, diz Patrick Buss, operador de renda variável da Manchester Investimentos. 

Para ele, o setor financeiro reúne as melhores oportunidades atualmente, com destaque para Bradesco (BBDC4), Itaú (ITUB4) e Banco do Brasil (BBAS3), “papéis que se beneficiam do cenário de uma potencial recuperação econômica, são resilientes e oferecem boas perspectivas de valorização de média e longo prazo”. 

Já Ilan Arbetman, analista da Ativa Investimentos, diz que é preciso olhar todos os setores para encontrar as melhores oportunidades e cita Suzano (SUZB3), JBS (JBSS3) e Sabesp (SBSP3) como boas opções atualmente. 

Fundos imobiliários

A alta dos juros pode impactar negativamente os fundos imobiliários de tijolo, segundo Vanessa Morauer Voigt, analista sênior da gestora de patrimônio Aware Investments. “Isso ocorre por causa da possibilidade de redução do consumo e do encarecimento das dívidas, o que pode afetar o resultado das empresas e a ocupação dos imóveis”, explica.

Por outro lado, os fundos de papel, que têm, majoritariamente, índices de correção atrelados à inflação e à taxa de juros, tendem a se sair melhor nesse cenário. “Como a Selic está sendo ajustada para cima justamente em resposta ao avanço da inflação, é razoável esperar que os fundos atrelados a esses indicadores se beneficiem mais desse cenário”, afirma a especialista.

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Na hora de investir nesse tipo de ativo, porém, é essencial avaliar alguns indicadores, como o cap rate (métrica que mede o retorno de um imóvel em relação ao capital investido), o histórico do gestor do fundo e a diversificação da carteira. “Optar por fundos com baixa concentração em uma única fonte de receitas é o ideal”, diz Vanessa.

Exterior

Uma Selic mais alta não anula a importância de diversificar globalmente e investir em dólar, afirma Otávio Barros, especialista em mercado internacional da Fami Capital. “Apesar das taxas de juros elevadas no Brasil, a diversificação global continua sendo essencial para proteger e ampliar o patrimônio ao longo do tempo”.

Barros ressaltou também que concentrar todo o capital no risco Brasil e no real pode resultar em perda de valor no longo prazo. Por outro lado, investimentos internacionais oferecem maior segurança e previsibilidade financeira, ajudando a equilibrar os riscos e potencializar os ganhos.

Sobre a alocação de recursos, o momento atual apresenta oportunidades tanto na renda fixa em dólar, devido aos juros americanos em patamares historicamente altos, quanto no mercado acionário dos EUA, segundo Sidney Lima, analista da Ouro Preto Investimentos.

“Na renda variável, empresas de tecnologia podem ser atraentes, assim como o setor de saúde e biotecnologia, por seu caráter defensivo. Vale lembrar que a transição energética também segue como tendência de longo prazo. Na renda fixa, os Treasuries de médio prazo (5 a 10 anos) devem se valorizar com a expectativa de cortes de juros nos EUA, enquanto bonds corporativos e ETFs de crédito privado podem se beneficiar da redução dos spreads de crédito”, diz.

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