“Um show de horrores”: Caso de paciente com AVC expõe precariedade em hospitais da região metropolitana

Foi durante a limpeza da casa, no último domingo (23), que Claudete Terezinha de Abreu, 60 anos, sofreu um Acidente Vascular Cerebral (AVC). Socorrida, a moradora de Novo Hamburgo acabou encaminhada para o Hospital Regina. Lá, os parentes foram informados de que ela precisaria de um procedimento de urgência, porém, a casa de saúde não possui a especialidade.

CLIQUE AQUI PARA RECEBER NOSSA NEWSLETTER

Em função disso, Claudete acabou transferida para o Hospital Nossa Senhora das Graças (HNSG), em Canoas, no mesmo dia. Foi quando começou o drama, segundo relata a filha Gianacris Magri. Também moradora de Novo Hamburgo, a trabalhadora de 35 anos ficou “apavorada” com o “mau atendimento” e “precariedade” de condições essenciais aos pacientes.

“Minha mãe saiu do Hospital Regina com a recomendação de que precisaria passar por procedimento em algumas horas devido à gravidade da situação, só que ela não apenas permanece internada, [como está] sem uma data fixa para o procedimento”, reclama. “Fiquei apavorada porque deixaram cair até uma máquina de sinais vitais em cima da cabeça dela, o que só piorou a dor que sentia. Além disso, não tinha nem papel higiênico no hospital. Nunca vi tanta precariedade”, acrescenta.

ENTRE NA COMUNIDADE DO DIÁRIO DE CANOAS NO WHATSAPP

Gianacris Magri abriu protocolo na ouvidoria do Hospital Nossa Senhora das Graças devido à falta de estrutura da casa de saúde



Gianacris Magri abriu protocolo na ouvidoria do Hospital Nossa Senhora das Graças devido à falta de estrutura da casa de saúde

Foto: LEANDRO DOMINGOS/GES-ESPECIAL

Também filha de Claudete, Paola Gonçalves aponta que a falta de informações tem deixado os parentes em polvorosa. Isso porque o tempo está passando e ela não vê sinal de que a mãe consiga um leito para sair da Sala Vermelha, hoje administrada pelo Hospital de Pronto Socorro de Canoas (HPSC). No local acompanhando a mãe desde domingo, a manicure de 25 anos já disse ter visto de tudo.

“Teve quem morreu, houve quem convulsionou várias vezes até conseguir ser atendido e teve quem só levantou e foi embora com dor, porque não aguentou esperar um dia inteiro. Um show de horrores. Graças a Deus, os plantonistas do HPSC dedicaram atenção à minha mãe”, salienta. “Só que eles também reclamaram muito da superlotação, excesso de serviço e que estão com salários atrasados. A gente não sabia que encontraria esse quadro”, lamenta Paola.

SAÚDE: Um dos remédios mais caros do mundo é oferecido pelo SUS a bebês com doença rara; saiba mais

Segurança

Já o filho Doglas Luis Pereira, 38, disse ter ficado impressionado até mesmo com a falta de segurança no local. Durante somente um período de 24 horas, observou cinco brigas acontecerem na emergência da casa de saúde. Uma delas, logo na chegada.

“A ambulância mal tinha chegado com a minha mãe e já tinham acionado os enfermeiros e pessoal da limpeza que ‘era mais forte’ para parar uma briga aqui na entrada”, conta o trabalhador. “Eles tentaram achar a segurança, mas não encontraram. Depois disso, eu vi mais quatro brigas. O clima é muito tenso no hospital”, diz.

Máquina na Sala Vermelha acabou caindo sobre a cabeça de Claudete Terezinha durante atendimento, relata a filha Gianacris Magri. "Eu devia feito um vídeo na hora", diz



Máquina na Sala Vermelha acabou caindo sobre a cabeça de Claudete Terezinha durante atendimento, relata a filha Gianacris Magri. “Eu devia feito um vídeo na hora”, diz

Foto: REPRODUÇÃO

Sem leito

Desde as enchentes de maio de 2024, que interrompeu o atendimento no Hospital de Pronto Socorro de Canoas, as duas casas de saúde estavam compartilhando o mesmo espaço físico para atendimento de emergências. O quadro mudou quando a emergência foi passada à exclusividade dos profissionais do HPSC.

Por meio de informações coletadas pela reportagem sobre a emergência do local, o espaço na Sala Vermelha, onde deveriam ser atendidos nove pacientes, no último domingo, data em que Claudete Terezinha chegou no Hospital, estava com o dobro: 18 pessoas em atendimento.

LEIA TAMBÉM: Base Aérea de Canoas inicia treinamentos noturnos a partir desta segunda-feira

“Chegaram a dizer para nós que havia forma da minha mãe ser transferida para um leito, assim que chegou, no último domingo, mas a confusão era tão grande nesse hospital que nada foi feito”, aponta Gianacris, que abriu um protocolo junto à ouvidoria do Graças. “Coloquei tudo no papel, porque não quero que ninguém mais passe pelo que minha mãe passou.”

Só atende a urgências e emergências, aponta HPSC

Por meio de nota, o HPSC limitou-se a informar que prestou atendimento imediato e acolhimento à paciente mencionada na segunda-feira (24), que sofreu um incidente, sem registro de lesões, durante atendimento na emergência. Claudete chegou ao local no fim da tarde de domingo.

Na nota, a casa de saúde esclarece que os procedimentos relacionados à cirurgia neurológica e à internação são de responsabilidade do Hospital Nossa Senhora das Graças. O HPSC atua exclusivamente nos atendimentos de urgência e emergência dentro das dependências do HNSG, enquanto os demais cuidados, como internação, exames e procedimentos, seguem sob responsabilidade do HNSG.

Aguardando leitos para a UTI, informa o Graças

O Hospital Nossa Senhora das Graças, por sua vez, esclarece que a equipe de neurologia está acompanhando a paciente desde sua admissão na emergência e realizando os exames solicitados. No momento em que um leito for liberado na UTI geral, ela será transferida.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.