O pior dia da vida de Bolsonaro serão todos os dias daqui para frente

Ontem foi o pior dia da vida do ex-capitão Bolsonaro desde que ele abandonou o Brasil em 30 de dezembro de 2022 e refugiou-se nos Estados Unidos para não transferir a faixa presidencial ao seu sucessor legitimamente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva.

Bem que ele poderia ter ficado aqui e não transferido a faixa. Foi o que fez em 1985 João Batista Figueiredo, o último dos generais da ditadura de 64 a governar o país. Figueiredo saiu por uma porta lateral do Palácio do Planalto para não dar posse a José Sarney.

Hoje será pior para Bolsonaro do que foi ontem. A Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal, por unanimidade ou larga maioria de votos, o tornará réu pelos crimes de tentativa violenta de abolição da democracia, golpe de estado e organização criminosa.

Também se tornarão réus três generais (Augusto Heleno, Paulo Sérgio Nogueira e Braga Netto), um almirante (Almir Garnier), um tenente-coronel (Mauro Cid), um ex-ministro da Justiça (Anderson Torres) e um deputado federal (Alexandre Ramagem).

A condenação deles é jogo jogado. É possível que ocorra ainda no primeiro semestre deste ano ou, no máximo, no início do segundo. As penas de prisão poderão chegar a 30 ou mais anos. A maior delas está reservada para Bolsonaro, como chefe da organização.

É curioso que nenhum dos defensores dos acusados nega que houve uma tentativa de golpe de Estado. O que cada um deles nega é que seu cliente tenha participado da tentativa. Matheus Milanez, advogado do general Augusto Heleno, foi mais longe.

Ao se referir a uma reunião ministerial comandada por Bolsonaro em julho de 2022, a menos de três meses das eleições, Milanez disse:

– Ele [Heleno] ficou sentado, não falou uma palavra, não fez um gesto, não fez absolutamente nada. Quem participou falando e atuando em primeiro plano seria o ex-presidente Jair Bolsonaro. Ele [Heleno] ficou quieto.

Mentira ou engano do advogado. A reunião ministerial foi gravada e vazou. E nela, a certa altura, o general afirmou:

– Se tiver que dar soco na mesa é antes das eleições, se tiver que virar a mesa é antes das eleições. Depois das eleições será muito difícil que tenhamos alguma nova perspectiva.

Em mensagem aos seus seguidores, postada nas redes sociais, Bolsonaro admitiu recentemente ter conversado com alguns dos seus auxiliares depois das eleições de 2022 “sobre alternativas para a Nação”. Oi! Que alternativas? O golpe seria uma?

Alternativas para o quê se o país acabara de eleger um novo presidente, a justiça o diplomara e a posse estava marcada para 1º de janeiro de 2023? Na reunião ministerial de julho, onde Heleno falou em virar a mesa, Bolsonaro havia dito:

– Os caras estão preparando tudo para o Lula ganhar no primeiro turno. Na fraude.

– Agora, quem tem dúvida de que a esquerda, como está indo, vai ganhar as eleições? Não adianta eu ter 80% dos votos. Eles vão ganhar as eleições.

– Todos aqui têm uma inteligência bem acima da média. Não podemos deixar chegar as eleições, acontecer o que está pintado, está pintado. A gente vai ter que fazer alguma coisa antes.

E mais uma vez, Bolsonaro espinafrou ministros do Supremo:

– Alguém acredita em (Edson) Fachin, em (Luís Roberto) Barroso, em Alexandre de Moraes? Se acreditar levanta o braço. Acredita que são pessoas isentas? Que estão preocupados em fazer justiça, seguir a Constituição?

A partir de hoje, o que estará em disputa são os despojos de Bolsonaro. Por sinal, a disputa já começou, vai só se intensificar. Quem o substituirá como candidato da direita na eleição de 2026? Quem terá mais condições de contar com o apoio dele?

Eduardo Bolsonaro, deputado licenciado que foi cuidar da própria vida nos Estados Unidos, não esconde seu pessimismo. Outro dia, em um podcast com o pai, Eduardo desabafou:

– Eu já não acredito mais que existe saída não só para Jair Bolsonaro, mas para todas as pessoas simples que estão sendo condenadas até 17 anos de cadeia por conta do 8 de janeiro. Você pode botar o Ruy Barbosa para advogar a favor do Bolsonaro que ele não vai se livrar de uma condenação.

Para tristeza dos bolsonaristas, Donald Trump citou ontem o Brasil e a Índia como bons exemplos de segurança de registro eleitoral.

Até tu, Trump?

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