Circuit breakers pelo mundo: uma nova ‘Segunda-Feira Negra’?

O mundo financeiro começou a semana em desespero nesta segunda-feira (7) com uma onda de volatilidade que remete à crise do “Covid Crash” de março de 2020. As bolsas globais enfrentam quedas acentuadas e circuit breakers sendo acionados em sequência.

Circuit breakers acontecem nas bolsas de valores quando a volatilidade atinge níveis preocupantes. Isso ocorre para ceder ao investidor, um tempo para o mercado respirar, e assim evitar decisões irracionais e conter o efeito manada. Basicamente, a instituição acredita que o mercado está irracional demais, e por isso pausa as negociações por um determinado período de tempo.

Por exemplo, a Bolsa Japonesa, uma das que mais sofreu impacto até então, ativou o circuit breaker após o índice Nikkei 225 despencar mais de 8%, enquanto a negociação de futuros também foi suspensa nesta segunda-feira de madrugada.

Segunda-Feira Negra e circuit breakers

Analistas e economistas alertam para uma possível segunda “Segunda-Feira Negra”. A expressão é referente ao colapso de 19 de outubro de 1987, quando o Dow Jones caiu 22,6% em um único dia.

Anteriormente, na época da Segunda-Feira Negra original, também havia preocupação com os déficits fiscal e comercial dos EUA. Eram pontos que geraram dúvidas sobre a sustentabilidade da economia americana. O dólar vinha se desvalorizando fortemente, e os mercados temiam medidas mais agressivas para conter essa tendência.

Embora as quedas atuais não cheguem a tanto, a combinação de circuit breakers, pânico generalizado e incerteza econômica levanta temores de um evento semelhante.

O cenário, descrito por analistas como “pânico generalizado”, reflete os efeitos das novas tarifas globais impostas pelo ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e levanta temores de uma nova “Segunda-Feira Negra”.

No Brasil, o mercado de criptomoedas também sentiu o impacto, com quedas significativas em Bitcoin e Ethereum, mas especialistas apontam sinais de possível recuperação nos próximos meses.

O colapso das bolsas asiáticas e o circuit breaker no Japão

A Bolsa de Valores de Tóquio foi o epicentro da turbulência nesta segunda-feira, 7 de abril de 2025. O índice Nikkei 225, principal referência do mercado japonês, chegou a cair 8,2% durante o pregão, acumulando uma perda de 10% em dois dias, considerando a queda de 2,75% na sexta-feira anterior, conforme reportado pela Hindustan Times.

A Japan Exchange Group (JPX), que administra a Bolsa de Tóquio, suspendeu temporariamente as negociações de futuros após o acionamento do circuit breaker. Uma medida regulatória destinada a conter a venda em pânico e estabilizar o mercado durante períodos de extrema volatilidade.

A onda de vendas no Japão não foi um evento isolado. Em Seul, o índice Kospi caiu 4,8%, enquanto o Hang Seng de Hong Kong recuou 5,1%, segundo a Bloomberg. Nos Estados Unidos, os futuros do Dow Jones e do S&P 500 despencaram 4% cada, alimentando temores de um “Black Monday” global.

O pânico nos mercados asiáticos foi amplificado pela recente imposição de tarifas globais por Trump, anunciadas em 2 de abril, que incluem 34% sobre produtos chineses, 20% sobre a União Europeia e 24% sobre o Japão, conforme por Guilherme Prado, Country Manager da Bitget para o Brasil.

As tarifas de Trump e o efeito dominó nos mercados

As tarifas, apelidadas de “Liberation Day Tariffs” por Trump, visam reindustrializar os Estados Unidos e reduzir os déficits comerciais, mas estão causando um impacto devastador nos mercados globais.
Setores como tecnologia, têxtil e automotivo, que dependem de cadeias de suprimento internacionais, foram os mais afetados.

A China, principal alvo das tarifas, retaliou com medidas próprias, anunciando taxas de 25% sobre produtos agrícolas americanos, como soja e milho, segundo a Reuters.

A União Europeia, por sua vez, planeja impor tarifas retaliatórias sobre produtos americanos, como uísque e motocicletas, a partir do final de abril, conforme o European Commission.

O impacto econômico das tarifas é agravado por um cenário macroeconômico já fragilizado. A desaceleração chinesa, com crescimento projetado de apenas 4,5% em 2025 (o menor em décadas, segundo o FMI), reduz a demanda por commodities, afetando países exportadores como o Brasil.

No Japão, a dependência de exportações para os EUA e a China torna o país particularmente vulnerável. Analistas do Goldman Sachs estimam que as tarifas podem reduzir o PIB japonês em 0,5% em 2025, enquanto a Europa enfrenta o risco de uma recessão técnica, com crescimento projetado de apenas 0,1% no segundo trimestre, conforme a Reuters.

Reações Globais: Tailândia impõe restrições e o Brasil sente o impacto

A turbulência nos mercados levou a medidas drásticas em várias regiões. A Bolsa de Valores da Tailândia (SET) anunciou uma proibição temporária à venda a descoberto (short selling) de títulos, exceto para market makers do SET, mai e TFEX, conforme reportado em um comunicado oficial.

A SET também revisou os limites de teto e piso para negociações e introduziu ajustes dinâmicos de bandas de preço específicas para cada ativo, visando conter a volatilidade.

No Brasil, o Ibovespa acompanhou a tendência global, caindo 2,3% na abertura do pregão de 7 de abril, segundo a B3. Setores exportadores, como mineração e agronegócio, foram os mais impactados, com a Vale (VALE3) recuando 3,5% e a JBS (JBSS3) caindo 2,8%.

Desse modo, refletindo a queda nos preços das commodities. O real, por sua vez, se desvalorizou 1,2% frente ao dólar, atingindo R$ 5,60, conforme o Banco Central do Brasil.

O mercado de criptomoedas também em quedas

O mercado de criptomoedas não escapou da onda de vendas. Nas últimas 24 horas, o Bitcoin caiu 3,9%, para US$ 76.000, enquanto o Ethereum recuou 5,2%, para US$ 4.200, segundo dados da TradingView.

O índice Crypto Fear & Greed, que mede o sentimento do mercado, despencou para 17/100, indicando “medo extremo” entre os investidores, conforme destacado por Guilherme Prado, da Bitget.

Guilherme Prado explica que a imposição das tarifas de Trump acendeu o alerta nos mercados financeiros. Portanto, derrubando bolsas asiáticas e afetando diretamente ativos de risco, como as criptomoedas.

“O cenário macroeconômico turbulento, com a desaceleração chinesa e o impacto das tarifas, pressiona os investidores a reduzirem sua exposição a ativos voláteis”, afirma.

Apesar do cenário desafiador, Prado aponta sinais que podem beneficiar o mercado cripto nos próximos meses:

  • Rendimento dos Treasuries: O rendimento dos Treasuries de 10 anos nos EUA caiu abaixo de 4%, o menor nível desde o último trimestre de 2023, aliviando pressões sobre a dívida futura e favorecendo ativos de risco.
  • Dólar mais fraco: O índice DXY caiu para 101,3, o que favorece a valorização de moedas globais e abre espaço para fluxos de capital rumo às criptos, segundo dados do Federal Reserve.
  • Corte de juros pelo Fed: As chances de um corte de juros pelo Federal Reserve em maio de 2025 aumentaram para 75%, conforme o CME FedWatch Tool. O que tende a impulsionar ativos de risco, incluindo criptoativos.

Analistas alertam para riscos sistêmicos

O economista Robin Brooks, em uma postagem no X, alertou para os riscos sistêmicos das tarifas de Trump além de circuit breakers, destacando que a política comercial americana pode desencadear uma crise de confiança global.

“As tarifas não apenas elevam os custos para os consumidores, mas também minam a estabilidade das cadeias de suprimento globais”, escreveu Brooks.

Ele estima que o impacto inflacionário das tarifas pode adicionar 1,5% à inflação global em 2025, forçando bancos centrais a adotarem políticas monetárias mais restritivas.

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