Reunião do BRICS em julho se concentrará na defesa do livre comércio, diz Caramuru

Com o acirramento das disputas comerciais entre Estados Unidos e China na última semana, cresceu a expectativa em relação à reunião de cúpula dos BRICS, marcada para julho no Rio de Janeiro. Mas embora tenham havido declarações mais fortes de lado a lado, o ex-diplomata e membro do Conselheiro Consultivo Internacional do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (CEBRI) Marcos Caramuru não acredita que o encontro será marcado pelo confronto direto com a agenda protecionista de Donald Trump, até porque o interesse estará mais na defesa do livre comércio do que nas acusações contra os americanos.

Em entrevista ao InfoMoney Caramuru disse ainda que poderão existir oportunidades em comércio exterior para o Brasil por conta da atual guerra comercial, mas que elas devem continuar dentro do setor de commodities, uma vez que as exportações industriais vão enfrentar os mesmos obstáculos de antes das tarifas.

Veja abaixo a entrevista com Marcos Caramuru:

InfoMoney – Diplomaticamente, como uma aproximação ainda maior da China com o Brasil pode irritar Donald Trump e fazê-lo olhar mais diretamente para nós?

Marcos Caramuru – Não descarto a possibilidade de que o governo americano expresse alguma insatisfação com a aproximação da América Latina com a China, mas não acredito que possa fazer algo que mude a realidade atual. Tampouco vejo os que têm a oferecer como alternativa à cooperação do Brasil e da região com a China. Ademais, Brasil e Estados Unidos são concorrentes no mercado chinês. Ambos são grandes fornecedores de grãos e de proteínas. 

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IM – A reunião do BRICS, marcada para julho, pode ser um momento de retórica mais pesada contra os Estados Unidos?

MC – Sobre o BRICS, não vai ser de interesse de ninguém transformar a reunião do grupo numa reunião de crítica mais pesada contra os Estados Unidos. É claro que a expectativa é de que haja uma defesa do livre comércio, defesa das regras comerciais, a defesa da ideia de que os países têm que agir racionalmente do ponto de vista comercial, do ponto de vista econômico. Mas eu não acho que seja de interesse de ninguém ter uma acusação direta aos Estados Unidos, nem da China, nem do Brasil, nem de nenhum outro membro.

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IM – Além dos riscos, também podem existir oportunidades de trocas comerciais para além de commodities?

MC – Eu acho que, no momento, é difícil que o Brasil consiga sair de um comércio concentrado em commodities. Nós vendemos para o mercado americano alguns outros produtos como aço, aviões, assim como vendemos alguns produtos industriais para os países latino-americanos. Mas em proporção pequena porque já perdemos muito espaço para a China. Não acredito que no atual contexto exista mais espaço, nem para ampliarmos as nossas exportações de produtos industriais para os Estados Unidos, nem temos produção para isso, e muito menos para a China. Eu acho que as oportunidades existirão na área de commodities no sentido de que a China vai reduzir as compras americanas, seja porque os preços estejam altos, seja por razões políticas e, aí sim, haverá um espaço para o Brasil.

IM: É possível fazer um balanço entre riscos e oportunidades?

MC: Haverá um risco porque, se os Estados Unidos e a China chegarem a algum entendimento, possivelmente isso vai envolver uma maior compra pela China de cereais e de proteína americana e aí nós podemos perder algum espaço. Nos demais segmentos eu, sinceramente, não vejo onde existam oportunidades para uma expansão brasileira, até porque eu não acredito que a indústria brasileira esteja em condições de aumentar significativamente as suas exportações. Existirá um ou outro setor que pode se beneficiar, uma ou outra empresa que poderá se beneficiar, que já ganhou um nível maior de eficiência. Eu não descarto essa possibilidade. São empresas que já estarão no mercado americano e poderão aumentar a sua presença, em função da China estar menos presente nos Estados Unidos. Mas eu acho que serão tópicos, serão temas de interesse de empresas muito específicas e é difícil você imaginar um setor especificamente que possa se beneficiar da realidade.

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