UE distribui celulares descartáveis a funcionários nos EUA por receio de espionagem

A Comissão Europeia está disponibilizando celulares descartáveis e laptops básicos para alguns de seus funcionários que viajarão aos Estados Unidos, como medida de precaução contra espionagem. Essa prática, geralmente aplicada em viagens à China ou à Ucrânia, será adotada durante a participação de comissários e altos funcionários da UE nas reuniões de primavera do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial, que ocorrerão entre os dias 21 e 26 de abril.

De acordo com o Financial Times, o temor de vigilância surgiu devido a preocupações de que os Estados Unidos possam acessar os sistemas da Comissão Europeia. As medidas adotadas seguem o mesmo protocolo aplicado em viagens a países considerados de alto risco, como China e Ucrânia. “Eles estão preocupados com a possibilidade de os EUA entrarem nos sistemas da comissão”, afirmou um funcionário ao jornal britânico.

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A medida reflete o clima de crescente tensão entre Washington e Bruxelas desde o retorno de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos, em janeiro. O republicano tem adotado uma postura hostil em relação à União Europeia, chegando a afirmar que o bloco “foi criado para prejudicar os EUA”.

Recentemente, Trump implementou tarifas recíprocas de 20% sobre exportações europeias, que posteriormente foram reduzidas pela metade, com um prazo de 90 dias estabelecido para negociações.

Além disso, o ex-presidente pressionou a Ucrânia a ceder ativos estratégicos em troca de ajuda militar, sugeriu um realinhamento com a Rússia e ameaçou retirar as garantias de segurança da Europa, o que impulsionou os planos de rearmamento no continente. “A aliança transatlântica acabou”, afirmou, sob anonimato, um alto funcionário europeu.

Autoridades da União Europeia confirmaram ao Financial Times que as diretrizes de segurança para viagens aos Estados Unidos foram recentemente atualizadas. Entre as recomendações estão o desligamento de celulares ao cruzar a fronteira americana, o uso de capas de proteção contra espionagem e a preferência por vistos emitidos em documentos diplomáticos, os chamados “laissez-passer”, em vez de passaportes nacionais.

O envio de dispositivos temporários reflete medidas já aplicadas em regiões onde a espionagem é vista como uma ameaça concreta. Segundo Luuk van Middelaar, diretor do Instituto de Geopolítica de Bruxelas, “Washington não é Pequim nem Moscou, mas é um adversário inclinado a utilizar métodos extralegais para promover seus interesses”. Ele recorda que, em 2013, o governo Obama foi acusado de grampear o telefone da então chanceler alemã, Angela Merkel. “Governos democráticos também utilizam as mesmas táticas”, destacou.

A recomendação da Comissão Europeia também considera que agentes de fronteira dos Estados Unidos possuem o direito legal de apreender dispositivos eletrônicos de visitantes e examinar seus conteúdos. Há relatos de acadêmicos e turistas europeus que foram impedidos de entrar no país devido à presença, em seus celulares ou laptops, de publicações ou documentos críticos à política americana.

Nos próximos dias, está prevista uma reunião entre comissários da União Europeia e representantes de Washington para tratar da crescente tensão comercial entre os dois lados. A situação levou a UE a aprovar retaliações contra € 21 bilhões em exportações americanas, embora essas medidas ainda não tenham sido aplicadas.

Paralelamente, os Estados Unidos têm pressionado contra regulações europeias que impactam grandes empresas de tecnologia e criticado decisões judiciais e administrativas do bloco, como a exclusão de um candidato presidencial romeno devido a atividades suspeitas no TikTok.

Embora a Comissão Europeia afirme que não existem instruções formais por escrito sobre o uso de celulares descartáveis, fontes internas apontam que o serviço diplomático da UE está diretamente envolvido na implementação das novas orientações.

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