Tortura e sadismo: vítima de pai de santo comeu cigarro e fezes

A coluna teve acesso ao depoimento de uma testemunha que descreveu o cenário de horror vivido diariamente na Tenda Espiritual Vovó Maria Conga Aruanda, localizada no Setor Leste do Gama, pelas vítimas do pai de santo Alex Silva, 23 anos, e da mãe de santo Hayra Vitória Pereira Nunes, 22. Na oitiva, a testemunha afirmou ter presenciado diversas cenas de tortura e classificou o casal como “sádico”.

Segundo o relato, as vítimas eram submetidas a um verdadeiro martírio diário. Toda a ação, orquestrada pelo casal, que utilizava a religião como forma de atrair as vítimas, começava logo pela manhã, quando os torturados eram obrigados a limpar a casa de Hayra, preparar refeições e cuidar dos filhos dela — quatro crianças.

À noite, porém, os maus-tratos se intensificavam. Conforme apontam as investigações, as vítimas eram submetidas à exploração sexual e forçadas à prostituição.

Tormento

À polícia, a testemunha relatou que Hayra utilizava dois celulares: um pessoal e outro exclusivo para anunciar os programas envolvendo as vítimas. Segundo o depoimento, o aparelho continha contatos de clientes e fotos das vítimas, que eram enviadas para fins de aliciamento. Os “clientes”, conforme relatado, eram numerosos.

A testemunha também contou que diversas pessoas frequentavam a casa e tinham conhecimento das torturas, mas fingiam não saber o que se passava. “As crianças presenciavam tudo e até desdenhavam das vítimas”, revelou. “Uma vez, Alex fingiu estar incorporado por uma entidade e forçou uma das vítimas a comer um cigarro aceso e pimenta.”

O depoimento aponta ainda que uma das vítimas, uma adolescente transexual, teve as mãos e a língua queimadas com uma concha de cozinha aquecida por Hayra. A jovem fazia uso de medicamentos controlados, mas foi obrigada a interromper o tratamento pelos pais de santo.

“Ela tomava Depakene (remédio psiquiátrico), mas a Hayra mandou parar, dizendo que ela ficava lerda e não fazia as coisas direito”, relatou a testemunha. A adolescente, segundo ela, era a mais exposta às humilhações. “Alex a obrigou a ajoelhar, deu tapas no rosto dela, enquanto Hayra ria da cena. Depois, mandou que ela lambesse o chão, enfiou uma pimenta no ânus dela e, quando caiu um pouco de fezes, ordenou que ela lambesse também.”

O controle exercido por Hayra sobre as vítimas era extremo. De acordo com o depoimento, ela rasgou a maioria dos documentos das vítimas e confiscou os que restaram. Uma das vítimas, conforme relatado, possui uma cicatriz entre o ombro e o peito, causada por uma queimadura feita com cigarro e vela. “A diversão da Hayra era humilhar eles”, concluiu a testemunha.

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Delegado William Ricardo

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Prisão

Após a adolescente conseguir fugir do centro de tortura, em 26 de janeiro de 2025, e relatar à polícia todos os episódios de sofrimento. A polícia desencadeou robusta investigação policial, conduzida pela 14ª Delegacia de Polícia (Gama).

Hayra Vitória foi presa pouco tempo depois, em 6 de março. Nessa terça-feira (15/4), a Polícia Civi do DF (PCDF) deflagrou mais uma fase da Operação Black Magic, com a prisão de Alex Silva.

A partir da primeira prisão e da ampla repercussão do caso, surgiram novas testemunhas, vítimas e envolvidos, o que possibilitou aos investigadores identificar a participação ativa desse outro líder espiritual. A denúncia que levou o homem à prisão foi revelada com exclusividade pela coluna.

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