Vídeo da PM de SP lembra ritual da Ku Klux Klan, diz especialista

São Paulo — O vídeo publicado nesta terça-feira (15/4) pelo 9° Batalhão de Ações Especiais de Polícia (Baep), de São José do Rio Preto e região, no interior de São Paulo, remete a “coisa da Ku klux klan”. É o que diz o especialista em segurança pública e professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Rafael Alcadipani. O vídeo foi apagado minutos depois da postagem.

Alcadipani classifica o material publicado pelo batalhão como completamente inadmissível: “Infelizmente, quando a gente vê uma coisa dessas, a gente lembra coisa de Ku klux klan. Isso é completamente inadmissível. Uma força de segurança não poderia estar usando símbolos da organização, viatura, coisas do estado para fazer um vídeo que parece coisa de Ku klux klan”, avaliou o professor.

O Metrópoles teve acesso ao material. Veja:

 

A gravação, com direito a produção envolvendo imagens aéreas e trilha sonora, foi feita em um ambiente noturno. O vídeo tem pelo menos 14 PMs diante de uma cruz pegando fogo e uma trilha com o caminho marcado por fogo.

No fundo, aparece a palavra Baep também pegando fogo, além de bandeiras da corporação ao lado e viaturas da PM com o giroflex ligado.

O professor da Fundação Getúlio Vargas afirmou que a Polícia Militar (PM) “vai agir com firmeza em relação a isso [vídeo], porque não faz o menor sentido. O especialista ainda afirmou que não acha que os movimentos dos braços dos policiais, vistos no final da gravação, foram sinais nazistas, embora considere que o movimento “tem essa conotação”. Para Alcadipani, pode ser que o gesto represente “um juramento de um rito de passagem”.

O 9º Batalhão de Ações Especiais de Polícia (Baep) foi procurado pela reportagem, mas não se posicionou sobre o vídeo até o momento da publicação. O Metrópoles apurou que o comando do batalhão foi cobrado internamente a prestar esclarecimentos.

Investigação de ato de “intolerância”

A Secretaria da Segurança Pública (SSP) também foi procurada pela reportagem. Em nota,  a PM afirmou, na noite desta terça-feira (15/4), que repudia “toda e qualquer manifestação de intolerância” e que instaurou um procedimento para apurar as circunstâncias relativas ao vídeo.

Veja nota na íntegra:

“A Polícia Militar é uma instituição legalista e repudia toda e qualquer manifestação de intolerância. Assim que tomou conhecimento das imagens, a Corporação instaurou um procedimento para investigar as circunstâncias relativas ao caso. A Corporação não compactua com desvios de conduta e reforça que qualquer manifestação que contrarie seus valores e princípios será rigorosamente apurada e os envolvidos responsabilizados”

O que é Ku Klux Klan

A Ku Klux Klan (KKK) surgiu nos Estados Unidos, na segunda metade do século XIX, entre os anos de 1865 e 1866, na cidade de Tennessee, no sul do país.

Entre outras coisas, o movimento defendia ideias supremacistas brancos, promovendo atentados contra negros, recém-libertados pela 13ª Emenda Constitucional dos Estados Unidos. Brancos que de alguma forma defendiam os direitos dos negros também eram alvos dos ataques.

Ao longo dos anos de existência do grupo terrorista, os ataques continuaram sendo focados nos negros e incluíram os judeus a partir do século XX.

No ponto mais alto, o grupo terrorista contou com quatro milhões de membros na chamada segunda fase. Foi nessa época que a cruz em chamas se tornou um símbolo da klan.

No vídeo divulgado e apagado pelo Baep, um dos elementos é justamente uma cruz pegando fogo.

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