Inteligência planetária: melhor que a artificial-por Eduardo Fernandez

Desde que surgiu na Terra, o ser humano tem sido um agente poderoso de transformação do meio em que vive. Durante mais de 99% de seu tempo neste planeta, buscava adaptar o meio para satisfazer suas necessidades de alimentação, abrigo, convívio e segurança. No tempo restante o atendimento destas necessidades foi substituído pela tentativa de satisfazer desejos criados pela propaganda para alcançar outro objetivo: o lucro. Com isso, alterou-se a relação do ser humano com os demais seres vivos com quem dividimos essa nossa única casa.

A inteligência artificial – IA vem prometendo gerar novas benesses, assim como, em 1776, Adam Smith vaticinou que a busca do lucro privado levaria bem-estar à toda a comunidade. Não tivesse ele advertido que prováveis conluios e a formação de monopólios alterariam tal resultado, teria errado feio, pois ainda hoje, dois séculos e meio mais tarde, 80% da comunidade humana não vive, apenas aguenta, com menos de US$10,00 por dia! Menos que do aumento populacional, a degradação dos únicos meios de que dispomos para sobreviver – água, ar e solo – decorre de a busca do lucro privado ter se tornado mais importante que a solidariedade, que o atendimento das necessidades de alimentação, abrigo e convivência de todos. Temos, pois, que alterar profundamente a nossa economia, nossos hábitos e desejos, se quisermos sobreviver como espécie.

O Papa Francisco bem sabia disso e nos advertiu, seja com sua encíclica Laudato Si, seja com o lançamento da “Economia de Francisco”, que seria uma que não deixaria ninguém para trás.

A IA está sendo desenvolvida com o objetivo de gerar lucros para os grandes monopólios que têm dinheiro para desenvolvê-la. Quanto mais poderosas forem, maiores os riscos de tais sistemas buscarem objetivos próprios, distintos daqueles que orientaram os humanos na quase totalidade do seu tempo na Terra. As consequências da possível “independência” de máquinas com capacidades sobre-humanas são debatidas e temidas nos mais diversos locais e ocasiões.

Enquanto isso, uma análise isenta mostra que há muitas décadas já somos conduzidos, de fato, por sistemas artificias inteligentes, que têm objetivos próprios que não são a busca por bem-estar para todos: tais sistemas chamam-se “corporações”, que dominam a economia, a política, a cultura, as eleições, o esporte e muito mais; são sistemas cuja principal responsabilidade, segundo Milton Friedmam, é aumentar seus lucros! Apesar dos frequentes modismos que atribuem às empresas outros objetivos, no fundo sua gestão busca aumentar os lucros e, se não o fizerem, será substituída. Nessa busca vale, com frequência, subornar e guerrear, pois elas também dominam as máquinas de fazer guerra.

A verdadeira inteligência, no entanto, é a inteligência planetária, uma que leve em conta a necessidade de todos os elementos – rios, florestas, mangues, mares, solos, ar, geleiras, …- de cujo bem-estar depende o bem-estar dos humanos. O objetivo central tem de ser ampliar o bem-estar, e não esperar que este decorra do aumento do PIB!

 

Eduardo Fernandez Silva. Ex-Diretor da Consultoria Legislativa da Câmara dos Deputados

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