Estados Unidos não vão ruir, mas mundo já mudou e impacta investimento, diz CIO da XP

A ordem global baseada na hegemonia norte-americana já não é mais a mesma. Essa é a leitura de Artur Wichmann, CIO da XP, que participou do programa Stock Pickers. Segundo ele, “o mundo já mudou. Não, os Estados Unidos não vão ruir”. Em um cenário geopolítico cada vez mais fragmentado, o executivo destacou o fim da era em que os EUA bancavam a defesa global e impactava mudanças nas estratégias econômicas e de investimento mundo afora.

No episódio, apresentado por Lucas Collazo e Henrique Esteter, a conversa girou em torno de temas como o avanço da política isolacionista dos EUA, o papel da China no novo tabuleiro internacional e as tendências de reindustrialização norte-americana. 

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Da Guerra Fria ao “America First”

De acordo com Wichmann, a estrutura geopolítica que sustentou o mundo pós-Segunda Guerra Mundial era baseada em um “guarda-chuva nuclear” norte-americano, garantindo estabilidade às potências ocidentais. Essa configuração, no entanto, entrou em colapso.

“O cristal trincou”, disse ele, ao citar o caso da Alemanha, que rompeu regras fiscais internas para investir pesadamente em defesa. “Você vai arriscar a sua soberania dependendo da boa vontade americana? Não vai”, diz.

A mudança de postura dos EUA — agora mais focados em seus próprios problemas internos — tem provocado reações imediatas. A Alemanha, por exemplo, anunciou investimentos bilionários fora do teto constitucional para rearmar suas forças. E, mesmo que um eventual governo futuro revogue a tendência isolacionista, segundo o executivo da XP, o mundo já entendeu a necessidade de se proteger por conta própria.

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Reindustrialização e a resistência cultural

Outro ponto levantado por Wichmann foi o esforço de Donald Trump — e agora de boa parte do establishment político americano — de repatriar a indústria perdida. Embora faça sentido em um contexto de segurança nacional e menor dependência da China, o plano esbarra em uma questão prática: os americanos não querem fazer esse tipo de trabalho. “Por que trocar”, questiona.

Apesar dos memes com “americanos obesos costurando tênis da Nike”, a crítica reflete uma realidade econômica: os EUA são líderes globais em exportação de serviços e tecnologia, e a remuneração média nesse setor é muito superior à da indústria. Mesmo assim, diante de vulnerabilidades expostas durante a pandemia, a tentativa de descentralizar parte da produção global ainda está na pauta.

As cadeias globais frágeis

Para o CIO da XP, a pandemia escancarou um problema: “As cadeias de produção globais são muito eficientes, mas não são resilientes. Elas não aguentam tranco.” Nesse contexto, Wichmann acredita que o mundo caminha para um modelo mais distribuído de produção, com fábricas fora da China, mas ainda próximas dos EUA — como no México e no Canadá. No entanto, ele reconhece as limitações: “Não me parece que eles vão conseguir fazer isso completamente”.

Ainda que o debate geopolítico e macroeconômico seja carregado de incertezas, Wichmann aposta no micro como fator de sustentação do poder dos Estados Unidos. “As empresas americanas continuarão sendo líderes globais em tecnologia e inovação. E as chinesas também, se tiverem liberdade para isso”, afirma. Para ele, o fim da hegemonia americana não significa um colapso, mas uma nova ordem que exige dos investidores atenção redobrada às mudanças das “placas tectônicas” globais.

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