“Não passava no box do chuveiro”, diz mulher que passou por bariátrica

Correr com as irmãs, andar longas distâncias de bicicleta e fazer trilhas. Esses são alguns dos desejos que a carioca Ludmyla Oliveira, 36 anos, espera realizar até o final de 2025, ano em que passou por uma cirurgia bariátrica. Mas o maior objetivo dela é sair da obesidade.

Ludmyla decidiu enfrentar o medo da cirurgia depois de uma viagem para a Colômbia em 2023, quando teve edemas nas pernas durante o voo de volta, causados pela má circulação em consequência do excesso de peso.

“Eu já estava sofrendo de má circulação nas pernas porque sou baixinha e estava pesando 142 kg. As minhas pernas já não estavam aguentando todo o esforço físico. Quando saí do avião, não conseguia andar. Eu atravessei o aeroporto do Galeão chorando de dor”, lembra.

Obesidade é doença crônica

Ainda na infância, o excesso de peso era encarado pela família de Ludmyla como algo sem muita importância. “No Brasil, comida é afeto e família gordinha é só uma ‘família gordinha’. Isso não é falado como uma doença que precisa de tratamento. Mas, olhando a minha trajetória, eu me conheço fazendo dieta desde os 7 anos de idade”, lembra.

Mas o excesso de peso evoluiu ao longo dos anos para uma obesidade severa de grau 3 — estado caracterizado pelo índice de massa corporal (IMC) acima de 40. A doença foi um fator de risco importante para o surgimento de outras comorbidades, como: pressão alta, diabetes tipo 2 e má circulação nas pernas.

Além de afetar a saúde, a obesidade deixou marcas na autoestima da empreendedora social. “Já passei por situações de sentar em uma cadeira de praia e quebrar, de ficar o tempo todo em pé em uma festa por saber que cadeira de plástico é fraca e não vai aguentar, fingindo que isso é normal. Já estive em quartos de hotel com boxes de banheiro com menos de 50 cm e eu não passava”, lamenta.

A obesidade é uma doença crônica e progressiva que afeta milhões de pessoas em todo o mundo. Um estudo publicado na revista científica The Lancet, em março deste ano,
estima que 60% dos adultos terão sobrepeso ou obesidade até 2050.

O médico Fernando de Barros, coordenador do programa Força-tarefa no Hospital São Francisco do Rio de Janeiro, explica que a doença é multifatorial, com um fundo genético importante. Por isso, é difícil para a maioria dos pacientes perder peso a longo prazo sem sofrer o efeito sanfona.

“Para essas pessoas, só o tratamento clínico — com dieta, exercício e remédio, eventualmente — não oferece um bom resultado a médica e longo prazo. Ela pode até perder muito peso, mas vai ficar no efeito sanfona porque é uma doença crônica. A cirurgia não cura, mas é hoje o melhor tratamento para conseguir desacelerar a evolução da doença”, conta.

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A carioca optou por fazer a bariátrica depois de ter edemas nas penas ao voltar de viagem

Ludmyla espera voltar a se exercitar em breve
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Ludmyla estava com obesidade severa, em grau 3

Ludmyla Oliveira/ Imagem cedida ao Metrópoles

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A carioca optou por fazer a bariátrica depois de ter edemas nas penas ao voltar de viagem

Ludmyla Oliveira/ Imagem cedida ao Metrópoles

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Ludmyla espera voltar a se exercitar em breve

Ludmyla Oliveira/ Imagem cedida ao Metrópoles

A decisão pela cirurgia bariátrica

Antes do episódio no aeroporto, Ludmyla já vinha pensando na hipótese de recorrer à cirurgia bariátrica para tratar a obesidade. Mas o medo ainda era um dos maiores obstáculos.

“Eu vinha trabalhando a aceitação da bariátrica em terapia, para saber quais eram os meus medos e ali (ao atravessar o Galeão) eu falei: ‘preciso de ajuda. Preciso emagrecer porque não quero parar. Eu sou ativa, adoro viajar e estar em movimento e se continuar do jeito que estou, vou parar’. Porque o meu corpo não estava mais aguentando”, conta.

Ludmyla entrou no programa de controle da obesidade do Hospital São Francisco da Providência de Deus, do Sistema Único de Saúde (SUS), que conta com consultas multiprofissionais para acompanhar os pacientes com obesidade.

A cirurgia bariátrica foi realizada em 21 de março, durante uma força-tarefa em parceria com a empresa Medtronic para a realização de cirurgias bariátricas por videolaparoscopia — uma tecnologia minimamente invasiva.

“A abordagem minimamente invasiva foi decisiva para mim. Tenho pânico de hospital, de agulha, de cirurgia aberta. A possibilidade de fazer a bariátrica por vídeo me deu segurança e coragem”, conta.

Fernando de Barros explica que as cirurgias bariátricas por videolaparoscopia são minimamente invasivas. É uma técnica que utiliza um aparelho chamado laparoscópio, com uma microcâmera, para realizar a redução do estômago através de pequenos orifícios no abdômen.

“Então a cirurgia ficou mais rápida, menos invasiva, causa menos dor e o paciente tem alta mais precoce, podendo retornar ao trabalho com mais rapidez e menos complicações”, afirma o médico.

Pouco mais de um mês após a cirurgia, Ludmyla não toma mais medicamentos para controlar a pressão arterial. A expectativa é de que os níveis de diabetes sejam controlados aos poucos, assim como a mobilidade para voltar a se exercitar.

“Espero ter uma vida vivida e não limitada. Meu principal objetivo é, ao longo dos próximos dois anos, conseguir sair dos graus de obesidade”.

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