Triste e merecido fim do primeiro presidente eleito depois da ditadura

A prisão de Fernando Collor se dá com pelo menos 32 anos de atraso, a contar do dia em que o Senado cassou-lhe o mandato e os direitos políticos por envolvimento com corrupção.

Se já era muito rico à época, Collor ficou ainda mais com a fortuna que amealhou para se eleger presidente da República. Pagas as despesas de campanha, sobrou dinheiro em grande quantidade.

O Supremo Tribunal Federal restituiu-lhe os direitos políticos por não ter encontrado provas suficientes de que incorrera em crime. E Collor pode voltar a disputar eleições. Nunca mais seria o mesmo.

A Justiça impediu-o em 2000 de disputar a prefeitura de São Paulo. Ele quis concorrer à presidência da República, mas seu partido, o nanico PTC, negou-lhe a legenda.

Das cinco eleições que conseguiu disputar, perdeu três: todas para o governo de Alagoas. Venceu duas para o Senado, mas ali foi tratado como um congressista do baixo clero, sem relevância.

Desta vez, o Supremo encontrou provas fartas  e convincentes de que Collor recebeu 20 milhões de reais em um esquema de corrupção na BR Distribuidora, empresa subsidiária da Petrobras.

E o condenou. E rejeitou seus sucessivos recursos para que revisasse a condenação. E, por fim, mandou prendê-lo. E Collor está preso desde às quatro horas da manhã de ontem, em Maceió.

A defesa de Collor encaminhou uma petição ao Supremo alegando que ele tem 75 anos de idade e é atormentado por doença de Parkinson, apneia grave do sono e transtorno bipolar.

Por isso deveria cumprir a pena no seu domicílio, um amplo e luxuoso apartamento com vista para o mar. Collor ocupa uma sala especial do presídio Baldomero Cavalcanti de Oliveira.

As alegações da defesa foram derrubadas pelo próprio Collor. Ao interrogá-lo, o juiz Rafael Henrique, da equipe do ministro Alexandre de Moraes, perguntou:

“O senhor tem alguma doença, faz uso de algum medicamento de uso contínuo?”

Collor respondeu: “Não”.

O juiz quis saber se ele passara por exame de corpo de delito. Collor disse que uma enfermeira o examinou, acrescentando:

“Tirou a pressão, o batimento cardíaco. Se é isso o corpo de delito, foi feito.”

Nada de anormal foi reportado.

A última esperança de Collor de não ter que comer quentinha pelos próximos anos repousa na iniciativa do ministro Gilmar Mendes de levar outra vez o caso para exame do plenário do tribunal.

Triste, mas merecido fim do primeiro presidente brasileiro eleito por voto direto depois de 21 anos de ditadura militar

 

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