Apagão deixa Espanha e Portugal no escuro e paralisa transportes

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O fornecimento foi interrompido por completo em centenas de cidades como Madri, Lisboa, Barcelona, Sevilha e Valência (Freepik/pvproductions)

Milhões de pessoas ficaram sem fornecimento elétrico em quase toda a Espanha e Portugal na segunda-feira (28), após uma falha repentina derrubar 15 gigawatts da rede em apenas cinco segundos, segundo o operador espanhol.

O corte atingiu ainda parte do sul da França e provocou o fechamento de aeroportos, interrupção de linhas de trem e pane em semáforos e elevadores. Na terça-feira (29), o abastecimento havia sido restabelecido em 99% da Espanha e na maior parte de Portugal, mas os sistemas de transporte continuavam afetados.

O primeiro-ministro da Espanha, Pedro Sánchez, afirmou que a perda de 15 gigawatts representava aproximadamente 60% da demanda nacional naquele momento. “Para se ter uma ideia, 15 gigawatts equivalem a cerca de 60% do consumo do país na hora do incidente”, declarou em pronunciamento na noite de segunda.

As causas do colapso ainda estão sob investigação. Especialistas afirmam que a apuração pode levar semanas. Enquanto isso, autoridades decretaram estado de emergência em cinco regiões espanholas — Madrid, Andaluzia, La Rioja, Múrcia e Extremadura — e em todo o território português, que declarou oficialmente uma crise energética.

O fornecimento foi interrompido por completo em centenas de cidades como Madri, Lisboa, Barcelona, Sevilha e Valência. A pane deixou aeroportos às escuras, interrompeu linhas de metrô e causou congestionamentos generalizados. “Eu estava dirigindo e, de repente, os semáforos apagaram… parecia uma selva”, disse Luis Ibáñez Jiménez, motorista em Madri.

O caos se espalhou por toda a Península Ibérica. Na capital espanhola, os bombeiros realizaram 174 resgates de pessoas presas em elevadores, segundo o Escritório de Informações de Emergência de Madri. Hospitais em ambos os países ativaram geradores de emergência, e serviços de saúde operaram em regime de contingência.

Em Portugal, vídeos compartilhados nas redes sociais mostraram moradores aplaudindo a volta da iluminação durante a noite. Ainda assim, o primeiro-ministro Luís Montenegro responsabilizou o país vizinho. “Tudo indica que o problema se originou na Espanha. Não começou em território português”, afirmou.

A vulnerabilidade da rede portuguesa também foi explicada pelo presidente da operadora Redes Energéticas Nacionais (REN), João Faria Conceição. Segundo ele, Portugal importa eletricidade da Espanha nas primeiras horas da manhã devido à diferença de fuso e ao custo menor da energia solar espanhola. “Somos periféricos. Enquanto a Espanha recebeu apoio da França e do Marrocos, Portugal não tinha de onde obter reforço imediato”, disse.

A confusão também afetou o transporte ferroviário. Trens de média e longa distância não operaram na Espanha até a manhã de terça, com operação reduzida prevista ao longo da semana. Em Portugal, a companhia aérea TAP pediu que os passageiros evitassem ir ao aeroporto até novo aviso, após cancelamentos em Lisboa.

Ellie Kenny, turista no Aeroporto Humberto Delgado, relatou a situação. “Estávamos no escuro, sem ar-condicionado ou água corrente. As lojas só aceitavam dinheiro”, afirmou. Nos trilhos, passageiros ficaram presos em vagões parados dentro de túneis em Madri. Imagens nas redes sociais mostraram estações fechadas com fitas de isolamento.

Eventos esportivos também foram suspensos. No torneio de tênis Madrid Open, os jogos foram interrompidos e torcedores deixaram as quadras após o desligamento da iluminação.

Na França, o operador RTE confirmou que partes do País Basco foram afetadas por um corte breve. “Durou apenas alguns minutos e foi restabelecido rapidamente”, disse a porta-voz Emilie Grandidie.

Autoridades espanholas pediram o apoio do Exército. A presidente da Comunidade de Madri, Isabel Díaz Ayuso, solicitou ao governo central o envio de tropas para apoiar ações emergenciais. O prefeito de Madri, José Luis Martínez-Almeida, pediu que a população evitasse deslocamentos e só acionasse os serviços de emergência em situações críticas.

O presidente do Conselho Europeu, António Costa, ex-primeiro-ministro de Portugal, afirmou que não havia indícios de ciberataque. “A origem ainda não é clara, mas não há qualquer evidência de ação maliciosa”, disse.

Com cerca de 60 milhões de habitantes, Espanha e Portugal enfrentaram um colapso sem precedentes no sistema elétrico. A recuperação do abastecimento foi rápida em grande parte das áreas urbanas, mas os efeitos colaterais — como o acúmulo de voos, trens e serviços interrompidos — devem se estender por dias.

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