Dá para mudar de marcha sem apertar o pedal de embreagem?

Todo mundo sabe que para mudar de marcha nos câmbios manuais é preciso apertar o pedal de embreagem. Mas, e se isso não for possível por um problema qualquer que impeça desconectar o câmbio do motor, que é justamente o que acontece quando, em condições normais, o pedal de embreagem é apertado até o final?

Esse problema qualquer mais provável é o cabo de embreagem ter-se partido ou uma falha do sistema hidráulico de acionamento da embreagem, cada vez mais usado nos automóveis. Imagine-se o sufoco de estar no trânsito, carro parado num congestionamento, o tráfego recomeçar a andar, tentar engatar a primeira marcha e não conseguir.

Ou estar estacionado num local ermo e não dá para pôr o câmbio em marcha alguma para sair dali. Desesperador, não? Mas tem jeito, é o que você vai ler agora. São dois passos.

O que fazer?

O primeiro é fazer o carro andar, é o mais simples. Com motor desligado, põe-se o câmbio em primeira. Em seguida dá-se partida no motor, com o que o carro começa a andar pela força do motor (elétrico) de arranque — sim, ele tem força suficiente para isso.

Mesmo com sua baixa potência, entre 1 e 5 cv e torque entre 20 e 60 kgfm, a relação de transmissão entre sua engrenagem e a do motor (no volante) é tão alta (curta), tão reduzida, que esse torque chega às rodas e o carro anda, para logo em seguida o motor pegar. Problema nº 1 resolvido. O problema nº 2 é que não é tão simples.

O sistema de engrenamento das marchas desde os anos 1930 não é o que se imagina, o de uma engrenagem ir ao encontro de outra ao movimentar a alavanca. As engrenagens de todas as marchas, exceto as de primeira até o finalzinho dos anos 1950, ficam em engate permanente.

Engatá-las consiste em uma do seu par — uma marcha é sempre um par de engrenagens exceto quando ela é direta, explico isso adiante — se conecta ao eixo onde gira solta. Essa conexão se dá mediante uma luva corrediça, uma peça circular com pequenos dentes na parte interna que se encaixam perfeitamente em pequenos dentes na engrenagem que gira solta.

Modelo agora conta com câmbio manual de 6 velocidades

É essa luva que se movimenta quando levamos a alavanca de câmbio para frente ou para trás. Ela tem um sistema de freio para igualar sua rotação com a da engrenagem antes do engate propriamente dito. Ou seja, a luva sincroniza as duas rotações e é por isso que ela é chamada de luva sincrônica.

Como subir a marcha sem usar a embreagem?

Para a luva sincrónica desempenhar seu papel é essencial que a engrenagem que gira solta no seu eixo esteja completamente livre, possível somente se o câmbio estiver desconectado do motor pela embreagem. Sem ela poder ser usada, o freio da luva sincrônica não consegue atuar como deve e o resultado é o conhecido e desagradável arranhar.

A propósito, a partir dos anos 1960 a primeira marcha dos carros passou a ser também de engate permanente e sincronizada, simplificando ao permitir engatar a primeira com o carro em movimento sem precisar conhecer a técnica da dupla embreagem, da qual falarei numa próxima matéria.

O subir marcha sem poder usar a embreagem consiste em desengatá-la no exato momento em que se levanta o pé do acelerador, quando o motor deixa de impulsionar veículo e ainda não oferece resistência ao seu movimento, e esperar a rotação do motor cair um pouco para só então engatar a marcha superior.

Para reduzir marcha, antes de movimentar a alavanca depois de desengatar a marcha em uso, dê uma pequena e breve acelerada antes de engatar a marcha inferior. Com um pouco de treino consegue-se realizar essas operações.

(Auto+)

Mas saiba que se for preciso fazer força além da normal para subir ou reduzir marcha, isso significa que o freio das luvas sincrônicas — os anéis sincronizadores — estarão sendo submetidos a um esforço para o qual não foram previstos e seu desgaste aumentará significativamente. Por isso, recomendo usar essa técnica em emergência apenas.

A explicação que fiquei de dar é que em muitos câmbios a última marcha não é por um par de engrenagens, mas uma conexão direta da entrada com a saída do câmbio — nesse caso não há “relação” no sentido estrito — comum nos carros de motor dianteiro e tração traseira como Gurgel BR-800/Supemíni, Chevette, Dodges 1800 e Dart, Opala, Galaxie, Maverick e tantos outros. Mas há também o caso de marcha além da direta, e por par de engrenagens, como nos câmbios 5-marchas de Opala, Omega e Alfa Romeo, este nacional.

Você sabia que dava para colocar o carro em movimento sem utilizar o pedal da embreagem? Compartilhe sua opinião nos comentários!


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