Enchentes a cada 10 anos: Catástrofes serão maiores e mais frequentes no Rio Grande do Sul nos próximos anos, aponta estudo

Passado um ano da maior tragédia climática da história do Rio Grande do Sul, os gaúchos precisam olhar para o passado como um alerta ao futuro. Mesmo com o Estado ainda se reerguendo das enchentes de 2024, os prognósticos científicos mostram a necessidade de adaptação rápida a uma nova realidade climática.

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Como está a estrutura da Trensurb junto ao Mercado Público de Porto Alegre após a enchente | abc+



Como está a estrutura da Trensurb junto ao Mercado Público de Porto Alegre após a enchente

Foto: Gustavo Mansur/P. Piratini

Comandado pela Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA), o estudo As Enchentes no Rio Grande do Sul – Lições, Desafios e Caminhos para um Futuro Resiliente é o mais recente destes levantamentos, e aponta para um prognóstico pouco animador: enchentes e inundações serão mais frequentes e intensas no território gaúcho ao longo dos próximos anos.

Apresentado na última quarta-feira (30), o estudo conta com a contribuição de diversos especialistas e aponta para uma urgente necessidade de adaptação às novas condições climáticas. Estas mudanças trarão impactos em todo planeta, contudo a região Sul do Brasil é a que está mais propensa a enchentes e inundações frequentes e cada vez maiores.

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Em números reais, a perspectiva é de um aumento de 20% na vazão dos rios gaúchos. “Isso poderia causar um acréscimo da ordem de três metros no nível d’água máximo nos rios da região da Serra, equivalente ao tamanho de um andar de uma edificação”, exemplifica o levantamento. Além de maiores, as cheias podem ficar até cinco vezes mais frequentes, fazendo com que eventos extremos como os de 2024 aconteçam a cada 10 anos, em média. Eventos dessa natureza tinham uma média de ocorrência de 50 anos antes de 2024.

Sistemas obsoletos

Depois da tragédia que atingiu o Estado no ano passado, boa parte dos modelos de proteção às cheias ficou defasado. Pensados com base na enchente de 1941, quando o nível do Guaíba chegou a 4,76 metros. Para termos de comparação, em 2024 o nível do rio em Porto Alegre chegou a 5,37 metros, ou seja, 60 centímetros acima do recorde anterior, suplantando assim os sistemas de proteção.

Porto Alegre não foi a única cidade do Estado a sentir os efeitos das enchentes, que atingiram 478 dos 497 municípios gaúchos, afetando 2,4 milhões de pessoas. Mas além de defasados para o que aconteceu, os sistemas de proteção também se mostraram falhos por outros motivos como rupturas, diques abaixo da cota do projeto original, estruturas frágeis, entre outros.

Atualização e ampliação

Secretaria adjunta de Reconstrução do Estado, Angela de Oliveira, conta que após as enchentes, foi possível ver o tamanho do problema em relação aos sistemas de proteção que existiam mesmo antes da tragédia. “Com o passar dos anos essas estruturas adensaram. Então quando a gente fala de um dique muitos deles agora ao fazer o diagnóstico para poder recuperar, se depararam com estruturas que não estão sequer correspondendo ao que existia no projeto”, destaca ela mostrando que antes de se começar a ampliar os atuais sistemas, será necessário recuperar o que já existia e se mostrou insuficiente para conter a vazão dos rios no estado.

Como a gestão dos diques está nas mãos dos governos municipais, houve neste período uma dificuldade extra de financiamento das obras de reconstrução. Por isso, na semana passada o governo do Estado anunciou o repasse direto do Funrigs para os fundos de reconstrução das cidades como forma de agilizar a reconstrução dos sistemas.

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Porém, uma disputa política tem atrasado os projetos de ampliação e melhoria dos sistemas de proteção. Da parte do governo federal, no final de 2024 foi criado um fundo de R$ 6,5 bilhões específicos para novas estruturas de proteção. A proposta era de atualizar os estudos já existentes, primeiro para o Arroio Feijó e a cidade de Eldorado do Sul.

Em janeiro, durante uma reunião entre representantes de todas as esferas de governo do país (federal, estadual e municipais) ficou definido que em maio os novos estudos estariam concluídos e o dinheiro começaria a ser pago.

Mas o lançamento da licitação para a contratação de uma empresa que ficará responsável pela atualização do estudo foi feito apenas na última semana, e a contratação desta é prevista para o dia 15 de maio.

Em meio ao atraso, as rusgas políticas entre o Palácio Piratini e o Palácio do Planalto chamaram mais atenção do que o andamento dos processos. Nos bastidores se fala que esta briga em nada tem afetado a relação entre os técnicos do governo federal e estadual. Só que no meio do impasse, pouco se viu evoluir sobre a renovação dos projetos para evitar que uma nova enchente volte a ter o efeito destruidor de 2024.

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