Banco ligado a operador tem parceria com entidade alvo da PF

O banco digital Terra Bank fechou parcerias com a Confederação Nacional de Agricultores Familiares e Empreendedores Familiares Rurais (Conafer), uma das entidades investigadas na farra do Instituto Nacional de Seguro Social (INSS), desde sua criação, em 2022.

Como mostrou a coluna, o banco tem como sócio-administrador Cícero Marcelino, apontado pela Polícia Federal (PF) como operador e assessor de Carlos Lopes (foto em destaque), presidente Conafer.

O escândalo do INSS foi revelado pelo Metrópoles em uma série de reportagens publicadas a partir de dezembro de 2023. Três meses depois, o portal mostrou que a arrecadação de 29 entidades com descontos de mensalidade de aposentados havia disparado, chegando a R$ 2 bilhões em um ano, enquanto elas respondiam a milhares de processos por fraude nas filiações de segurados.

As reportagens do Metrópoles levaram à abertura de inquérito pela PF e abasteceram as apurações da Controladoria-Geral da União (CGU). Ao todo, 38 matérias do portal foram listadas pela PF na representação que deu origem à Operação Sem Desconto, deflagrada no dia 23/4 e que culminou nas demissões do presidente do INSS, Alessandro Stefanutto, e do ministro da Previdência, Carlos Lupi.

A fundação do Terra Bak, voltado principalmente para o público pecuarista, se deu em 2022, durante a feira agropecuária ExpoZebu daquele ano. Na cerimônia, foi anunciada a primeira parceria entre o banco e a entidade – cujo objetivo era facilitar o acesso dos produtores rurais a recursos financeiros.

A parceria foi divulgada pela Alta Brasil, empresa do ramo de melhoramento genético bovino e cujo representantes participaram do lançamento do banco.

“Nós (pequenos agricultores) temos a importância de 10,1% no PIB, sendo que no último ano nós movimentamos R$ 220 bilhões e nós somos bons clientes. Agora, nossa expectativa é abrir contas e ver como a instituição conseguirá operar os nossos interesses financeiros, com portfólio de produtos e criatividade para atender todo o nosso setor”, disse Carlos Lopes, presidete da Conafer, sobre a parceira, segundo publicado no site da Alta.

Por sua vez, o conselheiro do banco, Philippe Szymanowski, também endossou o acordo. Segundo ele, a Conafer tem uma “grande representatividade no quadro nacional em relação à agricultura familiar, empreendedores rurais e pequenas comunidades” e que o banco seria “um grande instrumento” para os associados da entidade.

“Então, creio que é uma via de mão dupla e que será uma parceria muito saudável e duradoura”, afirmou.

Já em março deste ano, a Conafer divulgou em seu site que fechou outra parceria bilionária com o Terra Bank, cujo sócio, Cícero Marcelino, também atua como assessor do presidente da entidade, Carlos Lopes.

O acordo previa financiar R$ 5 bilhões em novos projetos de “melhoramento genético”, e ampliar o acesso de produtores rurais a uma genética bovina de ponta.

Segundo consta na publicação, Lopes afirmou que “uma parceria com uma instituição financeira como o Terra Bank permitirá que novos projetos de biogenética recebam investimentos estratégicos, garantindo um horizonte de sucesso no acesso dos produtores à mais eficiente biotecnologia reprodutiva.”

Cícero Marcelino, assessor da Conafer e apontado pela PF como um dos operadores da fraude do INSS
Cícero Marcelino, assessor da Conafer e apontado pela PF como um dos operadores da fraude do INSS

Cícero Marcelino é apontado pela Polícia Federal (PF) na investigação sobre a farra do INSS como um dos operadores do esquema, e que teria atuado na intermediação entre a entidade na qual trabalha como assessor e o Instituto Nacional de Seguro Social (INSS).

Ao mesmo tempo em que atua como assessor do presidente na entidade, que também é investigada pela PF, ele aparece como sócio do Terra Bank.

Nos registros do Terra Bank, Cícero aparece como administrador na sociedade que inclui a T.B Holding.

A T.B Holding, por sua vez, tem Cícero Marcelino e a Farmlands Holding LLC como sócios. A Farmlands tem como endereço o estado de Delaware, nos Estados Unidos, conhecido pelas regras mais flexíveis para abertura, manutenção e tributação de empresas.

Ao mesmo tempo, além das parcerias diretas divulgadas no site da entidade, a Conafer também utiliza o banco para realizar pagamentos a fornecedores e colaboradores.

Em comunicado ao coluna teve acesso, a entidade afirma que passaria a trabalhar “exclusivamente com a instituição bancária Terra Bank”.

“Essa medida visa proporcionar maior agilidade em nossas transações financeiras, garantindo, assim, maior segurança para todos os envolvidos”, diz trecho do comunicado.

Ainda, era solicitado que fossem abertas contas no banco digital com “a máxima urgência” pois os pagamentos a partir de então só seriam realizados por meio desse banco.

A entidade, porém, esclarecia que não havia obrigatoriedade em manter o dinheiro no Terra Bank, podendo usar a conta apenas para receber os pagamentos.

Defesa

A coluna entrou em contato com os citados na reportagem, mas não obteve resposta.

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