FIDC com quem entende de FIDC: modelo seria viável para o setor de Turismo? Entenda o que diz diretor do BB

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Nildo Ribeiro Neto, diretor executivo de Mercado de Capitais do BB-Banco de Investimento S.A., falou sobre o tema (Eric Ribeiro/SeturSP)

Se você acompanha o mercado de turismo nos últimos meses, você com certeza já ouviu falar em FIDC. A sigla pode parecer complicada, mas o conceito é mais simples do que parece – e pode, sim, ter futuro no setor de Turismo, segundo o diretor executivo de Mercado de Capitais do BB-Banco de Investimento S.A., Nildo Ribeiro Neto.

FIDC é o Fundo de Investimento em Direitos Creditórios. Em português direto: é como uma “venda futura de dívidas”. Funciona assim: imagine que uma empresa tem R$ 1 milhão para receber de clientes que compraram pacotes parcelados, reservas de hotel, ou passagens. Em vez de esperar meses para receber, ela reúne esses valores a receber (os chamados “recebíveis”) e os vende para um fundo. Esse fundo paga à empresa uma quantia adiantada (com desconto, claro), e depois recebe os valores diretamente dos clientes. Essa operação dá fôlego de caixa imediato à empresa e pode ser atrativa para investidores, desde que os recebíveis tenham segurança, ou seja, que realmente sejam pagos.

Segundo dados da Anbima, só no primeiro trimestre de 2025, as ofertas no mercado de capitais chegaram a R$ 152 bilhões: o maior valor para o período desde 2012, com forte impulso vindo justamente dos FIDCs, ao lado de debêntures e notas comerciais. Como todo fundo, oferecem vantagens como gestão profissional, diversificação e acessibilidade, mas também apresentam riscos, principalmente os de crédito e liquidez, exigindo atenção redobrada dos investidores.

Essa estrutura funciona bem em setores com previsibilidade. Bancos, financeiras, grandes varejistas usam o modelo com frequência. Mas no turismo? A resposta não é tão simples.

Em outubro de 2024, a operadora ViagensPromo e da fintech FaturePag anunciaram a criação de um FIDC para o setor, prometendo estruturação em apenas 60 dias. Pouco mais de quatro meses depois, nada havia saído do papel. Em vez disso, a operadora enfrentava dificuldades financeiras, reestruturava processos e admitia desafios operacionais. Não se sabe o motivo exato do fundo, que visava levantar até R$ 1,5 bilhão, não ter dado certo. Pode ser que não teve respaldo no mercado, ou que não passou de uma promessa. Pode ser muitas coisas, que ainda não sabemos – e talvez nunca saberemos.

Durante o 2º Fórum Internacional de Investimentos em Turismo, que aconteceu nesta terça-feira (07), em São Paulo, Nildo Ribeiro Neto afirmou no palco que o FIDC é, sim, uma alternativa para o setor turístico, embora não necessariamente a mais simples. Após o painel, o executivo conversou com o M&E e detalhou sua visão com exclusividade. Ao ser informado sobre o caso da ViagensPromo, que ele desconhecia até então, Nildo destacou pontos importantes sobre como essa estrutura deveria ser pensada no turismo.

“A chave está em você ter recebíveis segregados, auditáveis, com histórico. Aí, sim, você pode estruturar um FIDC viável”, afirmou. Para ele, o problema não está no instrumento em si, mas na forma como ele é aplicado, especialmente quando há pressa, pouco histórico ou falta de clareza na performance dos recebíveis.

E a questão dos “recebíveis não performados”, muito usada como argumento por especialistas para descartar o FIDC no turismo? Nildo discorda da generalização. “Tem performance, sim. Se o cliente já passou o cartão no hotel, por exemplo, o valor vai ser pago em ‘x’ dias. Isso é um recebível performado. O problema é quando se trata de uma promessa futura, sem confirmação, como no modelo do Hurb, por exemplo, que se vendia um hotel futuro sem nem saber qual hotel seria esse. Aí o risco é outro, e o investidor recua”, explicou.

A operadora, de fato, tem um modelo mais improvável para esse tipo de fundo

Segundo ele, o caso das operadoras de turismo é mais sensível. “A operadora, de fato, tem um modelo mais improvável para esse tipo de fundo. Ela é uma intermediária. Não tem ativos. Vende aqui, compra ali. Não é a melhor opção”, avaliou.

Mesmo assim, o executivo reforça: “O FIDC é um instrumento possível. Ele tem segurança e rentabilidade. A liquidez ainda é um desafio, porque o mercado secundário não é ativo. Mas há investidores dispostos a correr riscos, e existem mecanismos para mitigar esses riscos. O próprio cedente pode ser cotista do fundo, por exemplo”.

Com a recente autorização para investidores pessoa física participarem de FIDCs, e o forte crescimento da modalidade em 2024, Nildo acredita que o setor de turismo pode, sim, amadurecer para acessar esse tipo de financiamento. Mas ressalta: é preciso tempo, preparo, estrutura sólida e um bom track record. “O mais importante é olhar para o passado dessa carteira, entender o índice de perdas, a qualidade da performance. Só assim você consegue precificar o risco e atrair capital”, completou.

No fim, a conclusão é clara: o FIDC não é uma solução mágica para todos. Mas, com quem entende de FIDC, pode ser, sim, um caminho possível para parte do setor de turismo, especialmente em áreas com fluxo claro e previsível de receitas, como redes hoteleiras e empresas com estrutura robusta de crédito.

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