ARTIGO – O desenvolvimento hoteleiro no Brasil: Panorama, custos e oportunidades

Márcio Lacerda

Márcio Lacerda, especialista no segmento hoteleiro (Divulgação/ Márcio Lacerda)

O setor hoteleiro brasileiro tem apresentado uma evolução significativa nas últimas décadas, impulsionado pelo crescimento do turismo doméstico e internacional, pela realização de grandes eventos e pela expansão dos negócios corporativos. Apesar dos desafios econômicos e estruturais, o Brasil continua sendo um mercado atrativo para investimentos hoteleiros, especialmente em destinos turísticos consolidados em centros de negócios e cidades médias com grande produção industrial.

O desenvolvimento hoteleiro no Brasil pode ser dividido em diferentes fases. Até a década de 1990, o setor era dominado por flats, hotéis independentes e familiares, com poucos empreendimentos de bandeiras internacionais. A partir dos anos 2000, observou-se uma intensificação na entrada de redes internacionais e a profissionalização do setor, com a adoção de modelos de negócios mais sofisticados e a diversificação dos formatos de hospedagem.

Atualmente, o Brasil conta com aproximadamente 10 mil meios de hospedagem formalizados, totalizando cerca de 500 mil unidades habitacionais. As redes hoteleiras nacionais e internacionais representam cerca de 25% desse total, concentrando-se principalmente em capitais e grandes centros urbanos.

O mercado brasileiro apresenta algumas particularidades como a exemplo da Concentração geográfica visto que o desenvolvimento hoteleiro concentra-se principalmente no Sudeste, com forte predominância dos hotéis de negócios e o Nordeste do país com os grandes resorts. Também temos a sazonalidade principalmente em destinos de lazer, impactando a viabilidade dos empreendimentos e os preços médios cobrados.

Ademais, temos o crescimento de modelos alternativos como hotéis econômicos, apart-hotéis, resorts integrados e condhotéis e o aumento da preocupação com práticas sustentáveis na construção e operação além da chegada do modelo de multipropriedade que concorre diretamente com os hotéis na busca por investidores, para suas cotas ou quartos.

O custo de implantação de um empreendimento hoteleiro no Brasil apresenta especificidades que frequentemente o tornam mais elevado do que em outros países. Entre os principais fatores que influenciam esses custos estão a carga tributária com impostos sobre materiais de construção, equipamentos e serviços que podem representar até 30% do valor total do investimento, a burocracia com processos de licenciamento complexos e demorados que elevam os custos indireto, juros elevados e desafios de mão de obra que, apesar de não ser a mais cara globalmente, apresenta desafios de produtividade.

Observa-se que os custos de implantação no Brasil são geralmente equiparáveis ou ligeiramente superiores aos dos Estados Unidos, mas inferiores aos praticados na Europa, especialmente em países como França, Suíça e Reino Unido. Em comparação com a Ásia, o Brasil apresenta custos mais elevados, principalmente devido às questões tributárias e aos desafios logísticos.

Embora os custos de implantação possam ser mais elevados no Brasil, o retorno sobre investimento também apresenta especificidades como Taxa de ocupação: Média nacional em torno de 60% (pré-pandemia), com significativas variações regionais, RevPAR (Receita por quarto disponível), geralmente inferior aos mercados maduros como EUA e Europa, mas com potencial de crescimento e Payback de 10-15 anos para hotéis urbanos de categoria média, enquanto a média internacional está entre 8-12 anos.

Ou seja, o desenvolvimento hoteleiro no Brasil apresenta desafios específicos, especialmente no que tange aos custos de implantação, que são influenciados por fatores estruturais da economia brasileira. No entanto, o potencial de mercado, a diversidade de destinos e a crescente profissionalização do setor oferecem oportunidades significativas para investidores e operadores.

A grande dificuldade enfrentada pelo mercado de incorporação hoteleira neste momento é o custo de capital. Tanto para captação de capital para desenvolvimento dos projetos, quanto pela taxa de financiamento dos compradores que dependem dos grandes bancos para esta operação.

*Por Márcio Lacerda, mestre em Administração Profissional pela Fundação Instituto de Administração (FIA), diretor Geral da Hotelaria Brasil, CEO da Ventura Resorts e presidente do Board do Conselho Administrativo da Unna Hospitality, fundador e CEO da Thess Hotéis, e vice-presidente do Fórum de Operadores Hoteleiros do Brasil (FOHB).

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