Alta de juros e Trump podem abrir oportunidades em mercados turbulentos, diz gestor

Em meio a um cenário global de juros persistentemente altos e instabilidades geopolíticas crescentes, o gestor Daniel Gordonos, sócio da FCâmara, acredita que o momento é fértil para investidores que sabem navegar em ambientes de maior dispersão de preços e incertezas políticas. Em entrevista ao programa Stock Pickers, conduzido por Lucas Collazo e Henrique Esteter, Gordonos afirmou que o atual contexto internacional, marcado pelo “jeito Trump de governar” e eleições sensíveis na América Latina, cria “assimetrias reais” a serem exploradas por gestores atentos.

“A gente está num período de transição sobre como a economia global vai operar. O governo Trump, a questão tarifária e migratória — tudo isso aponta para uma mudança de paradigma importante”, disse o gestor, que atua na FCâmara, casa especializada em ativos alternativos e dívida de mercados emergentes. “Isso deve se refletir em outros países e criar um ambiente de mais dispersão entre setores e ativos”, afirmou.

Capital mais seletivo

Para Gordonos, a hipótese central é que os juros globais permanecerão elevados por um período prolongado, mesmo com uma inflação acima dos níveis observados no pré-Covid. “O mundo não acaba por isso, mas muda o ambiente em que se trabalha”, pontuou. Na sua visão, esse novo contexto impõe desafios adicionais a empresas e governos, ao mesmo tempo que favorece estratégias baseadas em seleção ativa e leitura de cenários institucionais.

Com maior custo de capital e incertezas sobre o novo desenho do comércio global, o capital tende a se tornar mais seletivo — o que abre espaço para oportunidades em ativos com maior retorno ajustado ao risco. “Não é a volatilidade em si que me atrai. É a dispersão. Custo de capital mais alto e mudança de regras criam oportunidades reais”, destacou.

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Apostas: Bolívia, Ucrânia e Rússia

Dentro dessa filosofia, a FCâmara tem monitorado de perto oportunidades em mercados de alta complexidade institucional, como Bolívia, Ucrânia e Rússia. Embora ainda não tenha se posicionado nesses países, a gestora vê espaço para entrar à medida que eventos políticos criem “gatilhos” claros.

No caso da Bolívia, Gordonos aponta que o país pode evitar uma reestruturação da dívida por meio de um mecanismo de extensão de prazos com cupons escalonados. “É um case onde possivelmente nem precisa reestruturar, talvez apenas ajustar a moeda”, avaliou. Ainda assim, a equipe aguarda maior clareza sobre a estabilidade institucional e o processo eleitoral, que considera frágil. “Não sabemos se as eleições serão honradas”, disse.

Na Ucrânia, o foco está tanto na dívida soberana quanto em empresas ligadas à reconstrução do país, como empreiteiras, fornecedoras de cimento e aço. “A gente tem mais perguntas do que respostas sobre como isso vai se desenrolar”, disse, destacando o déficit fiscal elevado mesmo sem considerar os gastos militares.

Já na Rússia, a gestora está mais ativa na análise. Embora o país não esteja formalmente em situação de distress, as sanções internacionais mantêm os ativos russos fora do radar da maioria dos gestores globais. “O ponto de partida é benigno. Se as sanções forem retiradas, é muito provável que a gente participe”, afirmou, mencionando especial interesse em empresas de commodities e bancos.

Eleições na América Latina

Além das tensões globais, Gordonos chama atenção para o calendário eleitoral intenso na América Latina — com disputas previstas em países como Argentina, Chile, Colômbia, Bolívia e Brasil. “Você tem uma sequência de potenciais transições políticas com novas políticas econômicas. Isso interfere diretamente na precificação dos ativos”, alertou.

Apesar disso, a FCâmara tem evitado basear suas decisões em previsões eleitorais pontuais. “É mais produtivo se preparar para cenários que tragam mudança de regras, barreiras tecnológicas e novas condições de transação. Isso gera ganhadores e perdedores em todos os mercados”, completou.

A estratégia da gestora, segundo Gordonos, é baseada na leitura de eventos binários — como eleições, acordos de paz ou o fim de sanções. Nessas situações, a assimetria entre preço e risco pode gerar oportunidades relevantes. “A gente tenta se antecipar, mas só aperta o gatilho quando tem convicção suficiente”, finalizou.

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