Confraternização de ditadores (por André Gustavo Stumpf)

O presidente Lula desembarcou em Moscou para a festa errada. Alguém esqueceu de explicar ao nosso apedeuta que a Força Expedicionária Brasileira – FEB – lutou na Itália contra o inimigo nazista, ao lado do Quinto Exército dos Estados Unidos, comandado pelo general Mark Clark. Há, em Pistoia um cemitério com os túmulos dos brasileiros que morreram na luta pela libertação da Itália. Os brasileiros não têm nenhuma participação com a guerra no oeste da Europa.

Aliás, a Segunda Guerra Mundial teve início formal quando as tropas de Hitler invadiram a Polônia em 1º de setembro de 1939 com uma devastadora blitzkrieg. Esta invasão foi proporcionada pelo acordo de paz e não agressão assinado por representantes do Terceiro Reich e por assessores de Joseph Stalin, é o famoso tratado Molotov/Ribbentrop. Entre os itens acordados havia a divisão da Polônia e a posterior invasão da Finlândia pela União Soviética, o que de fato, ocorreu. A Polônia foi dividida em dois. Alemães atacaram de um lado e os soviéticos de outro. Os ingleses manifestaram solidariedade ao governo de Varsóvia. A guerra formalmente começou logo depois do famigerado acordo entre nazistas e comunistas.

É verdade que Hitler rompeu o tratado e comandou a operação Barbarossa de invasão da União Soviética em junho de 1941. Suas tropas chegaram a quarenta quilômetros de Moscou e conseguiram tomar quase toda a cidade de Stalingrado a caminho dos poços de petróleo do Cáucaso. Seus exércitos foram contidos pelo Marechal Jukov e pela incrível resistência nas margens do Rio Volga dentro de uma simples fábrica de tratores, sob o comando de um então desconhecido Nikita Kruschev. Ali, os nazistas colheram a maior derrota. O gigantesco 6º Exército foi derrotado e seu comandante, Friedrich Von Paulus, feito prisioneiro, junto com 265 mil soldados em janeiro de 1943. Morreram na guerra mais de vinte milhões de russos no conflito que em Moscou se chama de Grande Guerra Patriótica.

Os norte-americanos colaboraram com aviões e caminhões na defesa do território soviético. Boa parte do material foi transportado através do Trampolim da Vitória, entre Natal, no Rio Grande do Norte, e os portos na África, de onde seguiram para as frentes de combate. Todos os anos, a Rússia celebra, no dia 9 de maio, a vitória da União Soviética sobre a Alemanha nazista com uma grande parada militar na Praça Vermelha, em Moscou.

A rendição incondicional da Alemanha Nazista foi assinada em 7 de maio de 1945, às 02h41, pelo então chefe do Estado-Maior da Wehrmacht, coronel-general Alfred Jodl, no quartel-general do general Dwight D. Eisenhower, em Reims, na França. Assim, o 8 de maio é conhecido em países europeus como o Dia da Vitória na Europa, ou Victory-in-Europe-Day (VE-Day). Mas Josef Stalin exigiu que houvesse uma repetição da assinatura de capitulação em Berlim pelos comandantes supremos da Wehrmacht. O líder comunista pretendeu com o gesto reclamar para a União Soviética o prestígio da vitória sobre a Alemanha nazista. Assim, na noite de 8 para 9 de maio de 1945, os comandantes supremos do Exército, da Marinha e da Aeronáutica da Wehrmacht assinaram, novamente, o atestado de capitulação desta vez no quartel-general soviético em Karlshorst, em Berlim (hoje o Museu Berlim-Karlshorst). A última assinatura foi firmada em 9 de maio, às 0h16.

A celebração da vitória em Moscou deixou uma imagem icônica da era soviética: a do marechal Gueorgui Júkov que inspecionou as tropas perfiladas do alto de um cavalo branco. Deixou também uma anedota: a de que Stalin pretendia entrar triunfalmente na praça, mas caiu do cavalo durante um ensaio e machucou o ombro. Jukov, grande herói soviético, pagou alto preço por sua vitória. O personagem que tomou Berlim foi perseguido por todos os homens fortes da Rússia. Ele era a única unanimidade política em seu país. Os líderes não perdoaram o imenso prestígio popular do militar mais condecorado da União Soviética.

O presidente Lula foi a festa errada porque em Moscou teve a companhia de nomes como Nicolas Maduro, da Venezuela, Miguel Diaz-Canel, de Cuba, Aleksandr Lukashenko, da Bieolrussia, dirigentes que desprezam a democracia e perseguem dissidentes. Confraternização de ditadores. Desde que Vladimir Putin invadiu a Criméia os representantes da democracia liberal enviam menos personalidades ao encontro de autocratas. A maior estrela na festa foi o presidente chinês, Xi Jiping, que tem o poder de mudar o rumo da guerra na Ucrânia. Ele, porém, está mais preocupado com seu duelo tarifário com os Estados Unidos. Trump, aliás, não se animou a ir até Moscou. A comemoração do dia da vitória na Europa ocorreu, como nos anos anteriores, em Londres no dia 8 de maio. Representantes de todos os países aliados estavam presentes. O Brasil, não.

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