As apostas de Lula para investimentos da China em infraestrutura no Brasil

Com três visitas oficiais dos presidentes em dois anos, a aproximação entre Brasil e China pode começar a render frutos em breve, com o país asiático mirando investimentos concretos em estradas, ferrovias, portos e aeroportos que podem ser anunciados nos próximos meses.

Desde a visita do presidente chinês, Xi Jinping, ao Brasil em 2024, quando mais de 40 acordos foram assinados, os chineses vêm analisando todas as oportunidades de investimento em obras de infraestrutura no Brasil, segundo o ministro dos Transportes, Renan Filho.

A expectativa é que agora a China escolha os projetos em que têm especial interesse em investir, e que alguns negócios já sejam anunciados nesta semana, quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva desembarca em Pequim para mais uma visita.

“Nós vamos assinar todos os projetos que possuem sinergia rodoviária e ferroviária com potencial para ampliar exportação para a China, especialmente agro, mas também outras coisas, como minério”, disse o ministro em entrevista à Reuters.

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“Pode ser que eles não anunciem diretamente já os projetos que pretendem participar, mas o interesse em determinadas áreas. Eles estão olhando tudo que tem sinergia com o projeto de crescimento do comércio entre Brasil e China”, acrescentou.

Entre as obras listadas pelo ministro como de interesse chinês estão a ferrovia de escoamento da produção de commodities em Açailândia (MA) até o porto de Barcarena (PA); o anel ferroviário do Sudeste, com a ligação entre Minas Gerais, Espírito Santo, Rio de Janeiro e São Paulo; a malha de ligação ao porto de Santos e ao porto de Açu; as integrações Centro-Oeste e Leste-Oeste; e a interligação do Brasil com o porto de Chancay, no Peru — já construído pelos chineses.

“Eles estão agora fazendo o que eles já dizem há um bom tempo, mas agora com apetite. É uma carteira que apresentamos algumas vezes, mas agora eles estão com apetite elevado. A ideia é que eles possam fazer anúncios de projetos prioritários de interesse deles”, explicou o ministro.

Na semana passada, ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet, comentou que o Brasil está em diálogo com a China para a construção de uma rota de ligação entre os oceanos Pacífico e Atlântico, saindo do porto de Chancay e percorrendo o território brasileiro até a costa da Bahia.

As negociações entrem Brasil e China avançaram depois que, em 2024, durante a visita de Xi a Brasília, os dois países chegaram a um acordo de parceria no que foi chamado de “sinergias” de desenvolvimento em quatro áreas que interessam especialmente ao Brasil: as obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), Rotas de Integração, a Nova Indústria Brasil e o Plano de Transição Ecológica.

O acordo foi fechado depois que o Brasil decidiu não participar do programa chinês da Nova Rota da Seda, o programa de investimentos chineses em infraestrutura no mundo, depois de anos de pressão de um lado e resistência do outro.

De acordo com uma fonte diplomática ouvida pela Reuters, a visita Lula à Pequim deve ser o início da consolidação dessas “sinergias”, ou seja, a hora de começar a tirar do papel o que vem sendo conversado desde novembro de 2024.

Dezesseis acordos estão prontos para serem assinados nesta visita, e outros 32 ainda estão em negociação. O volume elevou o que seria um simples encontro bilateral entre Lula e Xi a uma terceira visita oficial, uma em Brasília e duas em Pequim.

O governo brasileiro espera ver crescer os investimentos chineses no país, que entre 2007 e 2023 chegaram a US$73,7 bilhões, em 264 projetos, a maioria na área de energia. De acordo com levantamento do Conselho Empresarial Brasil-China (CECB), em 2023 foram US$1,73 bilhão, um aumento de 33% em relação ao ano anterior, mas ainda o segundo menor desde 2007.

“A área que mais recebe estoque de investimento de projetos chineses aqui no Brasil é a área de energia elétrica… Uma área que ainda está aquém do potencial que a gente tem de cooperação é na área de ferrovias”, disse à Reuters o diretor de pesquisa do CECB, Túlio Cariello.

“O Brasil também tem potencial para atrair esses projetos. E vejo que tem interesse chinês”, acrescentou.

Ele aponta que problemas de burocracia e de custo fizeram com que vários projetos não saíssem do papel nos últimos anos, mas que o ambiente hoje é mais favorável.

“Com o passar dos anos, existe hoje um conhecimento que é mais abrangente sobre o Brasil na China, muito maior do que era antes”, afirmou.

O ministro Renan Filho aponta na mesma linha e diz que hoje, com a experiência em outras áreas, há maior familiaridade das empresas chinesas com o modelo brasileiro. “Acho que a vantagem dessa relação boa que o presidente Lula tem com o Xi é que eles aceitaram finalmente fazer um projeto com as coisas das sinergias. Chegaram nesse acordo sem exigir mais que o Brasil entrasse na Rota da Seda”, afirmou.

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