Após morte em clínica de reabilitação, outro interno denuncia tortura

São Paulo — Após um homem ter morrido durante uma tentativa de internação involuntária em uma clínica de reabilitação, em Araraquara, no interior de São Paulo, outro interno, de 44 anos, denunciou o mesmo local por tortura.

A nova vítima foi internada na Clínica Santo Expedito, localizada no bairro Parque dos Laranjais, no dia 18 de março deste ano. Como no caso de Jean Carlos Bastos, de 35 anos, o homem que morreu, a internação do paciente se deu de forma violenta.

“Eles entraram na minha casa, me tiraram de dentro da minha casa e me deram um mata leão. Desde dentro da minha casa até a chegada do carro, eu fui sendo agredido. Eu não queria ir, eu resisti”, contou ao Metrópoles através de seu advogado, Leonardo Ribeiro.

Segundo os dados do boletim de ocorrência, obtido pela reportagem, o interno teria recebido um mata leão e chutes, tendo lesões em seu olho direito e rompimento nos ligamentos do joelho esquerdo. Os três funcionários também o teriam ameaçado, dizendo que parariam o carro em um canavial, para fazer mais agressões. Durante o percurso, ele levou socos na cara e tentaram quebrar a mão dele.

A vítima ficou na clínica até 16 de abril deste ano, onde sofreu diversos tipos de tortura, tanto física quanto psicológica, por parte dos funcionários. Nos 27 dias em que ficou lá, ele afirma não ter visto a cara de um médico.

Ele conta que só conseguiu deixar a clínica porque fugiu do local. “Consegui abrir a porta do quarto na madrugada. Aproveitei que o cachorro estava preso, porque eles tinham mantido a Rottweiler pra olhar à noite lá, e eu consegui fugir”, explicou.

Em depoimento à Polícia, ele disse que era obrigado a trabalhar 14 horas diárias na cozinha do local. “Minha estadia nessa clínica foi terrível. Um terror psicológico total, ameaça de agressão constante caso não obedecesse […] Era um inferno, era um lugar terrível”, disse o interno. Ele avalia que não apanhou tanto porque se manteve calado durante sua estadia. “É um lugar de desesperança cheio de rato, cheio de praga”, falou.

O Metrópoles entrou em contato com a defesa da Clínica Santo Expedito, que afirmou que “não há e nunca houve esse tipo de coisa dentro da clínica”.

O caso está sendo investigado por meio de inquérito policial instaurado pelo 3º DP de Araraquara, informou a Secretaria da Segurança Pública (SSP).

Morte em clínica de reabilitação

A Polícia Civil paulista investiga as circunstâncias da morte de Jean Carlos Bastos, de 35 anos, que foi hospitalizado após uma tentativa de internação involuntária em uma clínica de reabilitação em Araraquara, no interior de São Paulo.

Segundo o advogado da família, Leonardo Ribeiro, na manhã de quinta-feira (1º/5), Jean avisou sua mãe que gostaria de se recuperar do uso de drogas. A mãe, então, procurou uma clínica em Araraquara.

Já no primeiro contato, a clínica, que fica localizada no bairro Portal das Laranjeiras, propôs a internação compulsória.


O que se sabe

  • Os funcionários da clínica chegaram na casa de Jean, no município de Américo Brasiliense, por volta das 15h de quinta-feira. A vítima estava dormindo e, quando foi acordada, disse que não queria ir.
  • Mesmo assim, eles usaram a força para agarrar Jean, o pegando pelo pescoço e o jogando no chão.
  • A mãe de Jean pediu para os funcionários pararem, mas eles não obedeceram. Um deles teria dito a ela que esse era o procedimento, disse o advogado da família.
  • Jean foi colocado dentro de um carro enquanto era asfixiado pelos funcionários da clínica e foi levado embora.
  • A mãe, então, ligou para o responsável pela clínica e foi informada que seu filho havia sido levado para a UPA Melhado.
  • Quando chegou lá, a mãe descobriu que Jean teve parada cardíaca e que seria entubado e aguardava vaga na UTI.
  • Jean morreu algumas horas depois, na madrugada de sexta-feira (2/5), enquanto estava internado.

A certidão de óbito de Jean aponta que a causa da morte foi por asfixia por constrição cervical, afirmou o advogado da família. Leonardo Ribeiro também acompanhou a declaração dos funcionários, que, em depoimento para a polícia, se intitularam como ‘pacientes colaboradores’ da clínica, não enfermeiros ou técnicos de enfermagem.

A SSP informou que a ocorrência foi registrada no plantão da Delegacia Seccional de Araraquara e que diligências estão em andamento para esclarecer os fatos.

Os representantes da Clínica Santo Expedito sentem muito pelo ocorrido e estão em contato com a família para prestar toda solidariedade, disse a defesa.

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