Bolsonaro confirma que discutiu Estado de Sítio com militares: “nada anormal”

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) confirmou, em entrevista ao UOL, que discutiu com os comandantes das Forças Armadas a possibilidade de decretação de um Estado de Sítio após o resultado das eleições de 2022, mas negou que isso configurasse uma tentativa de golpe de Estado.

Bolsonaro classificou o debate sobre o tema como uma “medida prevista na Constituição” e comparou sua situação com a da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), que, segundo ele, também teria estudado o recurso em 2016.

“Não foi anormal discutir essa possibilidade. É um remédio constitucional”, afirmou. O ex-presidente alegou que, após a derrota nas urnas, havia uma preocupação com a “ascendência” do ministro Alexandre de Moraes sobre o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o que, na sua visão, colocava em risco a lisura do processo eleitoral.

Leia também

Bolsonaro pede ao STF que cancele audiências de testemunhas em ação sobre golpe

Defesa alega falta de tempo para analisar novas provas enviadas pela PF e se preparar para depoimentos

Bolsonaro critica STF por anular suspensão de ação penal contra Ramagem

Ex-presidente alega que decisão da 1ª Turma desrespeita o artigo 97 e apoia movimento da Câmara

Críticas ao STF e à investigação

Na entrevista, Bolsonaro fez duras críticas ao Supremo Tribunal Federal (STF) e ao ministro Alexandre de Moraes, a quem acusou de perseguição. Segundo ele, há um “sentimento” de que pessoas que querem vê-lo morto estariam protegidas pelo sistema.

“O MP é quem tem que provar que eu sou culpado, não eu que tenho que provar que sou inocente”, declarou. “No STF, tem cinco ministros — sabemos o histórico de cada um, citando o Zanin, Dino e Moraes. Moraes tem uma perseguição contra mim. Por mais razão que tivermos, ele nunca aceitou nenhum pedido nosso.”

Bolsonaro ainda questionou a decisão da Primeira Turma do STF de suspender parcialmente a ação penal contra o deputado Alexandre Ramagem (PL-RJ), limitando a suspensão apenas aos crimes cometidos após a diplomação do parlamentar. Para o ex-presidente, a ação penal deveria ser totalmente suspensa, pois ele é acusado de um “crime continuado” que começa com a live em que questionou as urnas eletrônicas e vai até os atos golpistas de 8 de Janeiro.

“Eu estou sendo acusado de um crime continuado desde a live criticando as urnas eletrônicas até o 8 de Janeiro, onde seria o golpe final. Tudo ao longo desse percurso está interligado. Então não faz sentido a suspensão parcial da ação do Ramagem”, disse.

Estado de Sítio

O ex-presidente defendeu que as conversas com os militares sobre um Estado de Sítio foram uma precaução legítima diante da percepção de que o TSE poderia estar jogando contra ele. Bolsonaro afirmou que nunca ordenou a implementação da medida e que, em uma segunda reunião com aliados, o tema foi descartado.

“Se eu houvesse planejado um golpe, não teria sancionado a lei que aumenta a pena para golpe de Estado”, declarou.

Bolsonaro negou envolvimento nos atos de vandalismo que ocorreram em Brasília em 8 de Janeiro e afirmou que sempre pediu manifestações pacíficas em seus vídeos. Ele acusou militantes da esquerda de se infiltrarem nos protestos para gerar caos e prejudicar sua imagem.

Ele também minimizou a importância da chamada “minuta golpista” encontrada na casa do ex-ministro Anderson Torres, classificando o documento como uma peça sem valor jurídico. “Isso aqui pode ser um roteiro de uma novela ou qualquer outra coisa. Se eu fosse o instrutor de Direito Constitucional, daria zero para o aluno que elaborou isso”, ironizou.

Futuro político e pressão sobre governadores

Bolsonaro declarou que, se for condenado, sua carreira política estará encerrada, dada sua idade. No entanto, afirmou que não pretende desistir facilmente e pediu apoio dos governadores que têm se reunido com o ex-presidente Michel Temer para discutir uma “alternativa de direita” para 2026.

“Eu vou até o último segundo. Peço até que os governadores falem sobre a validade da nossa chapa para 2026”, afirmou.

A fala de Bolsonaro ocorre em meio a uma série de desdobramentos judiciais que o colocam como réu em investigações sobre tentativa de golpe, organização criminosa e atos antidemocráticos. O ex-presidente, que já foi condenado a oito anos de inelegibilidade pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), agora enfrenta o risco de uma condenação penal que poderia encerrar sua trajetória política.

The post Bolsonaro confirma que discutiu Estado de Sítio com militares: “nada anormal” appeared first on InfoMoney.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.