Caso $Libra: Justiça argentina investiga contas de Milei e bloqueia bens de acusados

A Justiça argentina intensificou as investigações sobre o suposto golpe envolvendo a criptomoeda $Libra, promovida pelo presidente Javier Milei. A juíza María Servini emitiu um ofício ao Banco Central da Argentina solicitando informações detalhadas sobre contas bancárias de Milei, sua irmã Karina Milei (secretária-geral da Presidência) e outros três investigados, incluindo dois operadores do mercado cripto e um ex-assessor da Comissão Nacional de Valores.

O objetivo do pedido é examinar a evolução patrimonial dos envolvidos desde 2023. Além de Milei e sua irmã, estão na mira da Justiça Mauricio Novelli e Manuel Terrones Godoy, operadores cripto que teriam intermediado o contato de Milei com os empresários Hayden Davis, dos Estados Unidos, e Julian Peh, de Singapura — apontados como os principais responsáveis pela criação da $Libra.

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A juíza Servini também determinou o bloqueio de bens e ativos de Novelli, Terrones Godoy e Sergio Morales, ex-assessor da Comissão Nacional de Valores, por 90 dias. A medida atinge ainda a mãe e a irmã de Novelli, María Alicia Rafaele e María Pía Novelli, acusadas de esvaziar cofres bancários logo após o início da investigação.

Imagens de câmeras de segurança mostram as duas entrando em uma agência bancária com bolsas vazias e saindo com elas cheias. Quando os cofres foram vistoriados, estavam vazios.

O esquema da $Libra: valorização artificial e perdas milionárias

A investigação aponta para uma possível fraude em 14 de fevereiro, quando Milei publicou um link em sua conta no X (antigo Twitter), promovendo investimentos na criptomoeda $Libra. Naquele momento, um grupo seleto de pessoas — incluindo os criadores da criptomoeda e investidores com informações privilegiadas — teria comprado a moeda por US$ 0,01.

Poucas horas depois, com o impacto da divulgação presidencial, o valor da $Libra disparou para US$ 5, permitindo que os investidores iniciais vendessem suas posições com lucros milionários. Estima-se que o esquema tenha gerado ganhos de mais de US$ 100 milhões, enquanto milhares de pequenos investidores ao redor do mundo foram prejudicados com o colapso da criptomoeda.

Três frentes de investigação

O escândalo envolvendo a $Libra está sendo investigado em três frentes:

  1. Processo criminal: conduzido pela juíza María Servini, que busca determinar a responsabilidade penal dos envolvidos.
  2. Ação civil: movida por vítimas da fraude, que exigem indenização de US$ 4,5 milhões. Milei e sua irmã foram convocados para uma mediação nesta quinta-feira, mas seus advogados não compareceram.
  3. Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI): criada pela oposição no Congresso argentino, que já ouviu o chefe de gabinete, Guillermo Francos, e convocou os ministros da Justiça, Mariano Cúneo Libarona, e da Economia, Luis Caputo, que não atenderam às convocações.

Além disso, o próprio governo argentino anunciou a criação de uma unidade especial de investigação na Presidência, mas três meses após o escândalo nenhum resultado foi apresentado. Tribunais dos Estados Unidos também analisam o caso, dada a dimensão internacional da operação.

Impacto político e questionamentos

O caso da $Libra continua abalando o cenário político da Argentina. Milei, que se elegeu com uma plataforma de ruptura com o sistema tradicional e críticas ao establishment, agora enfrenta acusações que colocam em dúvida sua integridade e a de seu círculo próximo.

O governo tenta se defender da crise, mas a ausência de respostas concretas tem aumentado as críticas da oposição. A imagem de Milei, que até então se apresentava como um outsider do sistema, passa a ser questionada pela suposta participação em um esquema que deixou milhares de investidores no prejuízo.

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