Gripe aviária: Confira riscos, ações em curso e próximos passos segundo especialistas

A descoberta de um caso de gripe aviária numa granja no Rio Grande do Sul na semana passada colocou em alerta tanto produtores quanto compradores dos produtos avícolas brasileiros. Como o maior exportador de frango do mundo, respondendo por 35% do comércio global da proteína, o país vendeu em 2023 mais de 5,1 milhões de toneladas de carne de frango, com faturamento recorde de US$ 9,742 bilhões.

Apesar do susto, especialistas ouvidos pelo InfoMoney avaliam que as consequências econômicas serão limitadas, desde que o caso se mantenha isolado e as medidas de contenção sigam sendo adotadas com agilidade.

Ação rápida evita alarde

Segundo Alcides Torres, analista da Scot Consultoria, as autoridades agiram com rapidez ao suspenderem exportações da região afetada e iniciarem as ações sanitárias. “Alguns países também já suspenderam as compras por 60 dias. Isso dá tempo para que todas as medidas sejam tomadas e os organismos internacionais comprovem que o Brasil agiu corretamente”, diz.

Ele lembra que a doença não oferece risco à saúde humana, já que não é considerada zoonose, não sendo, portanto, transmitida nem pela carne nem pelos ovos. “Além disso, o sistema de produção brasileiro, baseado em granjas fechadas e altamente controladas, dificulta ainda mais a disseminação do vírus. O governo já havia proibido a criação livre de aves por causa do risco com aves migratórias”, afirma.

Ciclo curto da produção ameniza impactos

O ciclo da avicultura, cerca de 45 dias do nascimento ao abate, permite ao setor reagir rapidamente. Para Alcides, a produção pode ser deslocada para outras regiões como São Paulo ou Santa Catarina, reduzindo o impacto regional e garantindo o abastecimento. “É um setor muito bem estruturado. A expectativa é de que os efeitos sejam pontuais, tanto em logística quanto em preços”, acrescenta.

Felippe Serigati, pesquisador do FGV Agro, reforça que tudo dependerá da confirmação de que o caso no município de Montenegro (RS) é isolado. “Se for mesmo único, basta implementar o zoneamento de 10 quilômetros ao redor do foco e as demais regiões podem continuar exportando”, afirma.

Serigati lembra que o Brasil ganhou espaço no mercado global quando a União Europeia teve surtos e perdeu parte da demanda. A expectativa é de que, se bem controlado, esse episódio não prejudique a posição brasileira. “Pode haver queda de preço no mercado interno, com maior oferta de carne que não será exportada, mas será algo temporário”, disse.

Inflação de alimentos

Apesar da possibilidade de queda pontual nos preços do frango no mercado interno, Serigati descarta que isso possa aliviar a inflação de alimentos de forma significativa. “O frango não teve grandes altas recentemente. Então, não é um fator que vai mexer muito com o índice geral”, pontua.

Para Marcos Jank, coordenador do Insper Agro Global, o mais importante é reforçar que o consumo de carne de frango e ovos é seguro. “Não há possibilidade de contaminação humana por consumo”, explica.

Ele destaca que o Brasil se preparou durante décadas para lidar com situações como essa. “Exportamos para mais de 160 países, temos protocolos rigorosos e um histórico positivo. O zoneamento é uma das ferramentas que garante a confiança internacional. Não há motivo para fechar o país inteiro por um foco isolado”, argumenta.

Fornecedor confiável

O Brasil conquistou mercados e ampliou sua fatia nas exportações globais ao longo das últimas duas décadas. Em 2000, os Estados Unidos respondiam por 50% das vendas mundiais de carne de frango e o Brasil, por 18%. Hoje, essa participação se inverteu: os EUA têm 22% e o Brasil, 35%.

“Estamos crescendo mais do que os concorrentes. Isso exige que o país mantenha os protocolos atualizados e prontos para serem aplicados, exatamente o que foi feito agora”, afirma Jank.

Com o consumo médio nacional de 45 quilos de carne de frango por pessoa ao ano — frente aos 25 quilos da carne bovina e 20 da suína — a expectativa é que a demanda interna continue forte. “A possível queda de preços no mercado doméstico, provocada pela suspensão temporária das exportações, pode até impulsionar o consumo”, diz Jank.

Reputação preservada pela vigilância reforçada

Embora todo evento sanitário gere preocupação, os especialistas avaliam que a resposta brasileira foi ágil, técnica e transparente, o que fortalece a imagem do país como fornecedor confiável. A vigilância segue reforçada, principalmente pela constatação de que o vírus da gripe aviária está circulando em toda a América, e o desafio é manter o foco sob controle.

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