Bin Laden? Dinheiro para o Hezbollah? Qual o interesse dos EUA na Tríplice Fronteira?

A notícia de que os Estados Unidos voltaram novamente suas atenções para a região da Tríplice Fronteira, estipulando uma recompensa de US$ 10 milhões (R$ 56,4 milhões) por informações que levem à interrupção dos mecanismos e transferências financeiras para a organização terrorista Hezbollah, colocou novamente a área de divisa entre Brasil, Argentina e Paraguai em evidência internacional.

Leia também

EUA darão recompensa de R$ 56,4 mi por informações do Hezbollah na Tríplice Fronteira

Segundo o Departamento de Estado, financiadores do Hezbollah estariam arrecadando recursos por meio de lavagem de dinheiro, vindo de atividades como tráfico de drogas e contrabando

Mas qual o motivo para a “Tri-Border Area” chamar tanto a atenção das autoridades americanas? O InfoMoney fez um pequeno guia sobre o tema. Acompanhe abaixo:

O que é a Tríplice Fronteira?

A área é um ponto onde três países se encontram: Brasil, Argentina e Paraguai. Essa região, onde há a confluência dos rios Iguaçu e Paraná tem cidades importantes como Foz do Iguaçu (Brasil), Ciudad del Este (Paraguai) e Puerto Iguazú (Argentina) e tem um histórico de pouco controle de fluxos de pessoas, produtos e dinheiro. Assim, além das belezas naturais, que atraem o turismo, também é um local que propicia atividades como tráfico de drogas, contrabando e, supostamente, atividades terroristas, gerando preocupações entre os governos dos três países.

Qual a ligação da região com os povos árabes?

Desde os anos 1960, a intensa atividade comercial na fronteira da região atraiu uma significativa população de origem árabe, com predominância de palestinos, libaneses,  sírios e egípcios. Foz do Iguaçu, por exemplo, concentra a segunda maior comunidade de língua árabe do Brasil, com aproximadamente 22 mil imigrantes e descendentes, ficando atrás apenas de São Paulo. A quase totalidade destes árabes tem o islamismo como religião, especialmente  das correntes sunita e xiita. Em Ciudad del Este, por outro lado, vivem em torno de 9 mil muçulmanos, sendo a maioria xiita. Já na cidade de Puerto Iguazú não há uma significativa comunidade árabe.

Qual o motivo de associação com o terrorismo?

Nas investigações do atentados terroristas na embaixada de Israel em Buenos Aires (março de 1992) e na Associação Mutual Israelita Argentina – AMIA (julho de 1994), que mataram mais de 100 pessoas e deixaram centenas de feridos, surgiram evidências de que os terroristas planejaram os ataques na área da Tríplice Fronteira e que ao menos teriam utilizado a região para entrar na Argentina. As suspeitas não foram confirmadas oficialmente. Os grupos Organização Jihad Islâmica e Hezbollah e o regime do Irã foram responsabilizados pelos ataques. Em 1998, dois suspeitos foram presos supostamente fazendo reconhecimento das embaixadas dos EUA e de Israel em Assunção, no Paraguai, para possíveis ataques. Em 2018, o Brasil prendeu um financiador do Hezbollah e o extraditou para o Paraguai para ser processado em 2020.

De 2009 até 2012, a região da Tríplice Fronteira foi incluída na lista de santuário de terrorismo do Country Reports on Terrorism, do Departamento de Estado dos EUA.

Em 2023, a PF deflagrou a Operação Trapiche, contra suspeitos de terrorismo ligados ao grupo radical Hezbollah. Dois homens foram presos e 11 mandados de busca e apreensão foram cumpridos em São Paulo, Minas Gerais e Distrito Federal. Segundo a investigação, o grupo planejava promover atentados contra prédios da comunidade judaica e israelense no Brasil, inclusive sinagogas.

É verdade que Osama bin Laden esteve na região?

Em 2003, a revista Veja noticiou que Osama bin Laden teria passado em 1995 três dias em Foz do Iguaçu, a cidade brasileira da Tríplice Fronteira, onde teria se reunido com membros da comunidade árabe numa mesquita da cidade. A reportagem citava como fonte um alto funcionário da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), sob a condição de manter-se no anonimato. O texto alegava existir um vídeo de uma palestra do futuro líder da Al-Qaeda, quando teria falado sobre sua experiência na Guerra do Afeganistão quando lutava contra a ocupação soviética, nos anos 1980. Outra curiosidade é que Khalil Mohamed Binladin, um dos irmãos do terrorista, e três de seus sobrinhos tiveram pedidos de nacionalidade negados em 2003 pelo TRF porque não conseguiram comprovar residência permanente no Brasil.

Os países assumem que existem atividades ligados ao terrorismo?

Embora o tratamento dado aos grupos militantes islâmicos varie de acordo com a linha ideológica no poder em cada país, tanto Paraguai como Argentina, em momento diferentes, já reconheceram oficialmente o Hezbollah como um grupo terrorista. Não é o caso do Brasil, embora na gestão de Jair Bolsonaro tivesse ocorrido uma recepção melhor da narrativa americana sobre o risco que a região representa. Em fevereiro de 2025, o ex-presidente disse que, se voltar ao poder, vai autorizar a instalação de uma base americana na área. Existe um grupo de discussões a respeito da segurança na fronteira desde 1998, que passou a se chamar 3+1 em 2002, com a inclusão dos EUA nas conversas. Mas não há um reconhecimento formal e documentado sobre atividades terroristas internacionais a partir da região;

Como aconteceria essa ligação?

Como não há provas conclusivas de atuação dos grupos que praticam terrorismo internacional nos países do Cone Sul, as principais acusações estão ligas à contribuição financeira para essas organizações. Esse é, aliás, o alvo do comunicado da recompensa anunciada nesta semana. Como a área fronteiriça é conhecida pela atuação do crime organizado, a circulação de dinheiro de origem suspeita também é. E é comum que os imigrantes enviem dinheiro para familiares e amigos residentes no Líbano ou territórios palestinos. São essas remessas, muitas delas de baixo valor, que motivam boa parte das acusações de financiamento de atividades terroristas.

The post Bin Laden? Dinheiro para o Hezbollah? Qual o interesse dos EUA na Tríplice Fronteira? appeared first on InfoMoney.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.