Trump leva ducha de água fria de Putin e ameaça trair a Ucrânia

Donald Trump vende-se como demiurgo capaz de eliminar o caos no mundo, inclusive as desordens que saem da sua cachola, por meio de atos de vontade individual.

A realidade vem se encarregando de desmenti-lo tanto na economia, como na política internacional, o que só é inesperado para os seguidores da seita demiúrgica.

Ontem, Donald Trump levou uma ducha fria de Vladimir Putin, no telefonema entre ambos que durou duas horas.

O presidente americano queria que o tirano russo aceitasse firmar um cessar-fogo imediato com a Ucrânia, a fim de que as negociações de uma paz duradoura pudessem ser iniciadas, mas Vladimir Putin disse que não. O tirano russo afirmou que  estaria disposto a trabalhar com o lado ucraniano em um memorando sobre um possível futuro acordo de paz. Ou seja, nada.

Logo depois do telefonema em torno do qual criou falsa expectativas, Donald Trump tentou dourar a pílula, como de hábito. Afirmou que “o tom e o espírito da conversa foram excelentes” e que Rússia e Ucrânia iriam “começar negociações imediatamente”.

Depois que se soube, por meio de Moscou, que a conversa entre Vladimir Putin foi, na verdade, “intensa e muito franca” e que a possibilidade de se tentar um memorando foi o máximo concedido pelo tirano russo, o presidente americano saiu pela tangente, como é igualmente do seu feitio.

Ele disse que “grandes egos estão implicados, mas acho que algo vai acontecer. E, se não acontecer, eu simplesmente me retiro, e eles que continuem. Mais uma vez, é um problema europeu e deveria continuar a ser um assunto europeu”.

Essa fala é vergonhosa por dois motivos. Primeiro, porque Donald Trump usa mais uma vez Volodymyr Zelenski como bode expiatório, igualando o agredido ao agressor nos ímpetos belicistas. Lembre-se da humilhação sofrida pelo presidente ucraniano, em fevereiro, no Salão Oval da Casa Branca, quando ele foi acusado pelo presidente americano de “brincar com a Terceira Guerra Mundial”.

O segundo motivo é a ameaça de Donald Trump de cair fora, jogando toda a encrenca nas costas da Europa. Se isso ocorrer, será uma traição à promessa feita aos ucranianos de que os Estados Unidos continuariam a ajudá-los, se eles assinassem um acordo comercial para a exploração de terras raras do seu país por empresas americanas, chantagem a que Kiev acabou cedendo.

Donald Trump, que gosta de bancar o durão com nas conversas com Volodymyr Zelensky, não fez menção a eventuais retaliações americanas à Rússia no telefonema a Vladimir Putin. Aos europeus, no entanto, ele admitiu a hipótese. Ninguém sabe o que vai pela cabeça do presidente americano, nem ele próprio.

Vladimir Putin quer apenas ganhar tempo para continuar a sua brutalidade no país vizinho. Só ontem, dia da conversa telefônica com o presidente americano, os russos desfecharam 72 ataques na região de Pokrovsk, segundo o exército da Ucrânia. É uma exemplo da boa vontade de Moscou.

Em 1922, Vladimir Putin disse que anexaria a Ucrânia em uma semana, mas a verdade é que o exército russo não conseguiu conquistar inteiramente nem os territórios que ocupou a partir de então. Um acordo de paz que lhe concedesse também o que efetivamente não dominou seria duplamente injusto.

Como não há como nutrir ilusões demiúrgicas quanto ao tirano russo, inimigo figadal do inteiro Ocidente, contra o qual ele move uma guerra híbrida há mais de década, a União Europeia anunciou hoje outro pacote de sanções, o 17º, agora visando os navios petroleiros “fantasmas” com os quais a Rússia vinha contornando sanções já existentes contra as exportações petrolíferas russas.

Assim como outros brutamontes do passado, Vladimir Putin só entende a linguagem da força, mas Donald Trump finge que não sabe disso.

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