Ônibus lotados, viagens em pé e pouca oferta: A rotina da população que usa transporte coletivo um ano após mudanças

Moradores de Novo Hamburgo utilizaram por décadas o mesmo sistema de transporte público, até que, em abril de 2024, uma nova empresa passou a operar os ônibus na cidade. Em maio de 2025, mais de um ano após a implementação da Viação Santa Clara (Visac), as mudanças já fazem parte da rotina, nem sempre bem recebidas pela população.

No início, os relatos de problemas eram frequentes: poucos ônibus circulando, mudanças nos itinerários das linhas, novo sistema de bilhetagem eletrônica e veículos quebrados causavam transtornos diários. Atualmente, passageiros relatam que as dificuldades persistem, especialmente nos horários de pico e aos finais de semana.

Linha Canudos/Esmeralda com ônibus lotado em Novo Hamburgo  | abc+



Linha Canudos/Esmeralda com ônibus lotado em Novo Hamburgo

Foto: Juliano Piasentin/ GES-Especial

Usuários ainda relatam o temor de novas mudanças, anunciadas pela Prefeitura para o dia 1º de maio, mas posteriormente suspensas. Conforme o poder público, o recuo foi motivado pela ampliação dos estudos que visam modernizar o serviço na cidade.

EM SAPUCAIA DO SUL: Hospital abre sindicância para apurar atendimento à paciente que morreu de dengue

No entanto, motoristas da Visac ouvidos pela reportagem, que optaram por não se identificar, afirmam temer que as mudanças gerem mais problemas. “Agora que a população está adaptada aos itinerários e linhas, qualquer alteração causaria novas reclamações”, disse um profissional. 

Segundo os funcionários, as modificações precisam de tempo hábil para que a implementação ocorra sem percalços. “Tem que ser bem feita. Vamos ser avisados com antecedência pela chefia, mas, por enquanto, não nos foi passado nada”, completou um dos trabalhadores.

Mudanças

Um dos incrementos seria a Linha do Trabalhador, que partiria às 5h30 da sede da Pulse (antiga SX Negócios) e percorreria os bairros Rondônia, Canudos, Imigrante, São Jorge, São José, Rincão, Operário, Centro e Ideal. Na sequência, o ônibus retornaria à empresa.

Outra opção considerada era a extensão da linha Canudos-Esmeralda até o Boa Saúde. “Seria longa demais [a linha], imagina só o tempo até chegar em casa ou no trabalho”, comentou Armando Cardozo, morador do bairro Canudos, enquanto aguardava o ônibus no Paradão da 1º de Março.

Ônibus da Visac em Novo Hamburgo | abc+



Ônibus da Visac em Novo Hamburgo

Foto: Juliano Piasentin/ GES-Especial

Realidade distinta

A reportagem utilizou as linhas Aeroclube e Canudos-Esmeralda nos dias 13 e 14 de maio para avaliar o serviço, escolhendo horários distintos: 15 e 18 horas. A primeira percepção está relacionada à pontualidade. As linhas respeitaram a tabela divulgada no site da Prefeitura, com atrasos mínimos, variando entre dois e cinco minutos antes de cada viagem.

Paradão vazio durante horários alternativos  | abc+



Paradão vazio durante horários alternativos

Foto: Juliano Piasentin/ GES-Especial

No itinerário a partir das 15 horas, o ônibus Aeroclube contava com ar-condicionado, bancos confortáveis e poucos passageiros. Apesar da comodidade, Ironi da Conceição, que utiliza o transporte para ir e voltar do trabalho, relatou que o veículo costuma estar lotado no primeiro horário da manhã. “Mesmo sendo um ônibus articulado, muitos precisam permanecer de pé”, disse.

Ironi também reclama da falta de transporte aos finais de semana. “Sábado e domingo já sei: se vou sair, tenho que chamar um Uber”, enfatizou. Outra passageira insatisfeita com o serviço nos finais de semana é Rosane da Silva, moradora do bairro Canudos, que sofre com a espera. “São poucos horários, é raro passar um ônibus”, lamentou.

EM CANOAS: Havan abre seleção para candidatos a empregos na loja nos próximos dias

A realidade de ônibus vazios também foi constatada na linha Canudos-Esmeralda, ao menos fora do horário de pico, quando o coletivo chegou ao fim da linha, no sentido bairro-centro, com apenas dois passageiros.

Movimento intenso no fim da tarde rumo ao Canudos

Por outro lado, no dia 14, a reportagem enfrentou um dos horários mais movimentados da mesma linha. O Canudos-Esmeralda chegou às 18h45 no Paradão, onde o ônibus já estava lotado. Para completar o percurso, foi necessário equilibrar-se, pois, com o coletivo cheio, havia pouco espaço para permanecer de pé. “O pior é que vem sem metade dos bancos, para caber mais gente. O pessoal sai cansado do trabalho e é obrigado a viajar em pé”, afirmou o usuário Édson Ribeiro.

Paradão de Novo Hamburgo lotado em horários de pico | abc+



Paradão de Novo Hamburgo lotado em horários de pico

Foto: Juliano Piasentin/ GES-Especial

Quem também relatou atrasos na linha Aeroclube foi Carine Martins. “Não está gerando estresse para eles. Precisam entender que nem todas as pessoas saem do trabalho antes das 18 horas. Muitos se liberam apenas às 18h30 e são obrigados a esperar uma hora pelo Aeroclube ou pegar o Esmeralda. Caminho cerca de 30 minutos para chegar em casa após descer do ônibus”, relatou.

Conforme a tabela, a linha Aeroclube conta com três horários próximos saindo do Paradão: 17h15, 17h30 e 17h40. Na sequência, há uma opção às 18h20, e a seguinte apenas às 19h30. “Para que isso? Precisamos de horários mais espaçados no fim da tarde, contemplando todos”, comentou outro usuário.

Quem também não está satisfeita é a aposentada Sueli Helena Santos. “Às vezes, perco minhas consultas médicas por conta dos ônibus. Eles atrasam ou não têm horários disponíveis, então preciso recorrer ao transporte por aplicativo e gastar mais”, lamentou

MAIS SAÚDE: Canoas decreta emergência em Saúde devido ao aumento de internações por Síndrome Respiratória Aguda Grave

Já o estudante do 2º ano do ensino médio no Instituto Federal, Mateus Berft, relatou que chegou a ser assaltado ao caminhar mais do que o habitual devido aos horários limitados. “Chego a esperar uma hora depois da aula. Acredito que deveria haver mais opções para estudantes e trabalhadores de meio período”, sugeriu.

Prazo de 90 dias encerrado e sem respostas

Em janeiro deste ano, uma reunião entre a Prefeitura e a Visac, realizada no Centro Administrativo Leopoldo Petry, definiu um prazo de 90 dias para a apresentação de melhorias ao Executivo. As soluções deveriam ter sido levadas ao conhecimento do prefeito Gustavo Finck. No entanto, o prazo terminou no final de abril e nenhum projeto foi formalizado, ao menos publicamente. Questionada, a Prefeitura de Novo Hamburgo não retornou aos contatos da reportagem.

  • CLIQUE AQUI PARA FAZER PARTE DA COMUNIDADE DE NOVO HAMBURGO NO WHATSAPP

O que diz a Visac?

Questionada sobre a grade de horários e itinerários dos ônibus, a Visac esclareceu que a responsabilidade é exclusivamente da Prefeitura Municipal. “A Visac-RS, como operadora do sistema, executa o que for determinado por meio de ordens de serviço”, esclarece.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.