“Não podemos deixar que operadoras usem o dinheiro do nosso cliente como caixa”, diz MoAv

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MoAv critica uso do dinheiro do cliente por operadoras; Braztoa rebate e defende modelo parcelado (Giulia Jardim/M&E)

SÃO PAULO – Durante audiência pública na Alesp, nesta quinta-feira (22), André Colaço, representante do Movimento das Agências de Viagens (MoAv), fez críticas contundentes à prática de algumas operadoras que, segundo ele, estariam utilizando o dinheiro pago por clientes para manter fluxo de caixa. “A gente precisa entender o seguinte: operadora não pode fazer caixa com o dinheiro do nosso cliente. Se eu paguei hoje, especialmente à vista, esse valor tem que ser repassado hoje. Porque quando o pagamento é via boleto ou cartão, ainda há a possibilidade de cancelamento, e a gente não está conseguindo cancelar cartão de crédito. E, vamos ser sinceros, se o banco já antecipou o valor, o banco vira vítima também”, afirmou.

Colaço alertou para os riscos da falta de transparência financeira no setor. “Como é que eu vou saber se determinada empresa está saudável hoje e amanhã continua solvente? Já vimos empresa grande maquiando números e todo mundo achava que estava tudo certo, e não estava. É por isso que a Braztoa precisa atuar de forma mais firme. Não pode ser apenas um clube de associados. Precisa proteger o mercado. Tem muita agência pequena quebrando porque confiou em fornecedores que depois não entregaram”, disse.

O representante do MoAv chegou a citar a Azul Viagens como exemplo de preocupação. “Hoje está tudo certo, mas e amanhã? Eu tenho R$ 50 mil em vendas com a Azul. Se acontecer alguma coisa, quem cobre esse prejuízo?”

Em resposta, Marina Figueiredo, presidente-executiva da Braztoa, defendeu o modelo de pagamentos escalonados como prática comum e essencial para viabilizar o acesso às viagens. “Os acordos comerciais entre operadores e fornecedores são justamente o que permite ao passageiro pagar hoje para viajar daqui a meses — em junho, setembro, até dezembro. E muitas vezes a operadora só termina de receber esse valor após a viagem acontecer. Não se trata de fazer caixa com o dinheiro do cliente, e sim de possibilitar o parcelamento, que é o que torna as viagens viáveis”, explicou.

Marina foi enfática ao afirmar que eventuais desvios de conduta devem ser tratados como exceção. “Quem estiver usando esse dinheiro de forma indevida, para fazer caixa, está com problema de gestão. Mas isso não é o modelo. O modelo prevê que o valor pago fique reservado para cumprir os compromissos relacionados à viagem, conforme os acordos com fornecedores.”

Ela reforçou ainda que a Braztoa não tem atribuição legal para fiscalizar empresas. “A Braztoa não é órgão regulador e nem pode atuar como tal. Isso cabe a instâncias oficiais. Se houver uma proposta para criação de um órgão fiscalizador, estaremos juntos em Brasília para apoiar”.

Marina também ressaltou que, até o momento, nenhuma denúncia oficial de inadimplência ou não entrega de serviços por parte dos 56 operadores associados chegou à entidade. “Não recebemos qualquer reclamação formal. Se identificarmos algum problema, o operador é chamado para esclarecimentos e, se necessário, desassociado da Braztoa. Mas não podemos sair por aí dizendo que empresa A ou B vai quebrar, isso é grave e pode gerar processos.”

Por fim, ela alertou para sinais de alerta que o próprio mercado pode identificar. “Empresas que oferecem comissões muito acima da média, que têm muitos relatos de não atendimento ou que estão com movimentações financeiras suspeitas precisam ser observadas. Com tantos fornecedores sólidos no mercado, é prudente colocar alguns em observação e redirecionar o fluxo de vendas. Cabe a todos — agências, consumidores, operadoras — ficarem atentos aos sinais”, finalizou.

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