Crédito privado cresce, mas empresas sofrem com alta do custo da dívida

O crédito privado vive um momento de popularidade entre investidores brasileiros, impulsionado pelos juros elevados e pela busca por rentabilidades superiores ao CDI. No entanto, por trás desse crescimento silencioso, um problema cada vez mais visível está surgindo nas empresas que emitem esses papéis: o custo da dívida está corroendo a saúde financeira de parte relevante do mercado.

Essa é a avaliação de Filipe Ferreira, diretor de negócios da ComDinheiro – Nelogica, que compartilhou com exclusividade à BM&C News um levantamento detalhado sobre a escalada das despesas financeiras das empresas listadas no Ibovespa.

Despesas financeiras das empresas quase triplicaram em três anos

De acordo com os dados apurados pela ComDinheiro, as despesas financeiras dessas companhias passaram de R$ 360,8 bilhões em 2022 para R$ 895 bilhões em 2025, um crescimento de quase 150% em apenas três anos.

No mesmo período, o EBITDA caiu de R$ 1,83 trilhão para R$ 1,57 trilhão, indicando que, ao mesmo tempo em que as empresas estão faturando menos, também estão gastando muito mais para manter suas dívidas em dia.

Indicadores revelam pressão crescente sobre a rentabilidade das empresas

Dois indicadores reforçam o alerta:

  • Despesa financeira sobre a receita líquida:
    • 2022: 5,8%
    • 2025: 12,7%
  • Despesa financeira sobre o EBITDA:
    • 2022: 19,6%
    • 2025: 57%

“A empresa ainda não deu calote, mas já está comprometendo uma parcela cada vez maior da sua operação só para pagar dívida”, afirma Ferreira. Para ele, esse é o “calote silencioso” que muitos investidores não enxergam.

A crítica de Ferreira mira diretamente os investidores que aplicam em debêntures, CRIs e CRAs olhando apenas para o CDI+ e ignorando a saúde das companhias emissoras.

O investidor acha que está emprestando dinheiro a uma taxa excelente, mas não percebe que a empresa está sufocada”, alerta. Segundo ele, é preciso avaliar se a companhia terá capacidade de pagamento no longo prazo, e não apenas se os pagamentos estão em dia no presente.

Selic elevada favorece o investidor, mas sufoca empresas

A elevação da taxa básica de juros ajudou a impulsionar o mercado de crédito privado nos últimos anos, mas também impôs um peso crescente sobre as finanças corporativas. O mesmo cenário que gerou ganhos para quem investe em renda fixa, está, segundo o levantamento, levando várias empresas à beira do estresse financeiro.

A frase de que juros altos só favorecem a Faria Lima precisa ser relativizada. A remuneração é boa para quem empresta, mas e quem toma esse dinheiro?”, questiona Ferreira.

Análise de crédito vai além da taxa: é preciso olhar a operação

A principal conclusão do estudo é clara: a inadimplência não começa com o calote declarado, mas sim com a perda de fôlego operacional. Para investidores, a mensagem é de cautela.

Antes de olhar o CDI+, olhe a operação da empresa. A dívida pode estar sendo paga, mas a que custo?”, finaliza o executivo.

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