“Estamos vendo o ‘decepcionalismo’ americano”, analisa gestor da Absolute

A nova gestão de Donald Trump na presidência dos Estados Unidos tem reacendido incertezas políticas e econômicas, com efeitos que, na visão da Absolute Investimentos, representam uma ruptura estrutural da ordem econômica global. Para os gestores Felipe Tâmega, economista-chefe, e João Bragança, responsável pelas estratégias internacionais da casa, o cenário é de “mudança nas placas tectônicas da economia mundial”, com impacto direto sobre decisões de investimento, especialmente em mercados emergentes.

Durante participação no episódio 159 do programa Outliers, do InfoMoney, os especialistas explicaram que a nova leva de tarifas agressivas adotada pelos EUA, sob liderança de Trump, tem quatro pilares: combate ao fentanil, repatriação de cadeias produtivas estratégicas, correção de distorções que o governo americano enxerga como “injustiça comercial” e aumento da arrecadação. Segundo Tâmega, “existe um racional por trás do tarifaço”, que também contribui para a tentativa de reduzir o déficit fiscal elevado do país.

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Transição histórica

Para o gestor João Bragança, o atual cenário reflete uma transição histórica. “Estamos vendo o ‘decepcionalismo’ americano”, afirmou. “O cenário macro mudou radicalmente”, avaliou Tâmega. O ambiente geopolítico, antes guiado por estabilidade e integração, agora se baseia em desconfiança, segurança nacional e reposicionamento de alianças. “Tivemos um choque global de incertezas”, acrescentou o economista.

Essa reorganização impacta diretamente as cadeias globais de produção e abre espaço para uma nova geografia de investimentos. Países neutros ou que oferecem estabilidade institucional podem se beneficiar da fuga de capitais direcionados anteriormente quase exclusivamente aos EUA.

“O estoque de capital nos emergentes ainda é baixo, então qualquer fluxo, por menor que seja, faz muita diferença”, avaliou Tâmega. Segundo Bragança, “qualquer melhora no fluxo de capital e na percepção de risco ajuda muito o emergente, que ficou largado por bastante tempo”.

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Brasil enfrenta obstáculos 

O Brasil, no entanto, ainda enfrenta obstáculos. A inflação segue acima da meta, as expectativas estão desancoradas, e a política fiscal é considerada frouxa pelos gestores. “A eleição ainda não é o ponto crítico. A maior dificuldade está nas medidas pontuais que estimulam o consumo num momento em que a inflação deveria estar sendo combatida com mais vigor”, pontuou Tâmega.

Bragança também comentou a mudança de comportamento internacional. “O governo americano acha que todo mundo se aproveita dos EUA de alguma maneira”, afirmou. Já em relação à China, ele destacou duas estratégias simultâneas: “China quer negociar com americanos em uma posição de força” e “China agora foca em IA e consumo”. Esse movimento chinês, segundo o gestor, pode ajudar a sustentar o crescimento global num contexto de desaceleração dos EUA.

Ambiente traz oportunidades 

Na leitura da Absolute, o atual ambiente — embora carregado de incertezas — favorece gestores atentos às inflexões de cenário. Em abril, o índice IHFA, que mede o desempenho de fundos multimercado, subiu 4%, quase quatro vezes o CDI no mesmo mês. “Esse ambiente caótico é propício para gestores que conseguem ler o cenário com clareza e agilidade”, explicou Bragança.

A casa está comprada em ações brasileiras — mas não via índice, e sim com uma cesta própria de ativos. Em juros reais, mantém posição neutra, e, na inclinação da curva nominal, está aplicada. No exterior, mantém exposição em moedas asiáticas e bolsas fora dos EUA, mas zerou sua posição em yuan.

Para os sócios da Absolute, o diferencial do investidor bem-sucedido é a capacidade de reconhecer mudanças e corrigir rotas. “Mesmo quando você acerta o cenário, pode errar o timing. O importante é ter humildade para repensar do zero”, refletiu Tâmega. E Bragança completou: “A história nos ensina que os ciclos se repetem. E o bom do mercado é que todo dia tem jogo novo”.

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